Título: Desemprego e renda em queda
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 26/01/2005, Economia, p. 21

Arecuperação da economia no ano passado começou a produzir reflexos no mercado de trabalho brasileiro. A taxa de desemprego chegou a um dígito pela primeira vez ¿ 9,6% em dezembro, contra 10,9% do mesmo mês de 2003 ¿ desde que a nova Pesquisa Mensal de Emprego (PME) começou a ser feita em outubro de 2001, informou ontem o IBGE. Em novembro, o índice ainda era de 10,6%. Isso depois de alcançar 13,1% em abril de 2004. Porém, essa queda no total de desempregados, que hoje somam 2,07 milhões em seis regiões metropolitanas, foi causada pela falta de procura por trabalho e não por abertura de vagas. Menos 250 mil pessoas buscaram ocupação, um recuo de 10,8%, natural nessa época do ano devido aos feriados de Natal e de Ano Novo.

Na taxa média anual, a parcela de desempregados da força de trabalho ainda exibe dois dígitos: 11,5%, inferior à de 2003, que foi de 12,3%. Mas a renda não conseguiu compensar as perda de 12,2% registrada no primeiro ano do governo Lula, em 2003. E continuou caindo pelo sétimo ano seguido, porém com menos vigor. O rendimento médio do trabalhador encolheu 0,8% em 2004, para R$ 895,40.

¿ O ano de 2004 foi mais favorável para o mercado de trabalho. O desemprego caiu, o número de empregados com carteira subiu. Mas ainda convivemos com queda da renda, que só reagiu a partir de setembro, e com a informalidade ¿ disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE.

Enquanto o rendimento ainda não mostra o vigor da economia, que pelas previsões dos analistas deve ter crescido de 4,5% a 5% no ano passado, a massa salarial aumentou. A soma dos salários dos trabalhadores, com a queda do desemprego, subiu 2,3% em 2004.

E as contas da Consultoria GR Visão para 2005 são bem otimistas. Ela projeta alta de 8,2% na massa salarial, apostando numa reação maior do salário. Cláudio Dedecca, professor da Unicamp, também acredita na recuperação da renda em 2005, mas ainda tímida. Isso se a economia continuar aquecida impulsionada pelo mercado interno:

¿ Mas para melhorar a qualidade das ocupações, com aumento das vagas com carteira assinada, é necessário um crescimento da economia superior a 5%. Sem isso, haverá reflexo positivo no mercado de trabalho, mas não na medida que a sociedade espera.

José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, também não vê reação muito forte na renda. Ele diz que ainda há folga no mercado de trabalho:

¿ Mas os empresários estão confiantes no crescimento sustentado da economia. Estão contratando.

Fernanda Fernandes está incluída nesse universo de novos empregados de 2004. Conseguiu em novembro vaga de engenheira civil na obra do Shopping Leblon, depois de ficar três meses desempregada.

¿ Em 2002 e 2003, a situação estava muito difícil. Até os cadernos de emprego dos jornais eram fininhos. Agora melhorou muito, principalmente na construção civil.

Desemprego deve subir este mês

Nos primeiros meses deste ano, o desemprego deve subir. Os que deixaram o mercado com as festas de fim de ano voltam a buscar uma vaga e se somam aos trabalhadores temporários dispensados em janeiro. Mas Pereira, gerente do IBGE, diz que o carnaval no início de fevereiro pode atenuar esse efeito sazonal:

¿ O carnaval também abre vagas temporárias, que podem absorver parte desses trabalhadores.

No Rio, a taxa de desemprego média em 2004 ficou em 9% e, em dezembro, baixou para 8,5%. O rendimento caiu 1,31% no ano.