Título: PROMESSA DE LULA PARA O MST TEM OBSTÁCULOS
Autor:
Fonte: O Globo, 26/01/2005, O País, p. 5

A promessa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sexta-feira passada de começar a assentar as famílias do acampamento de sem-terra Lulão, no Sul da Bahia, a partir de julho, não será cumprida facilmente. O superintendente do Incra na Bahia, Marcelino Gallo, disse ontem que há vários obstáculos para que a meta seja cumprida.

¿ O presidente fez a promessa de começar a assentar as famílias até julho. Vamos acelerar a partir de agora para que se garanta a palavra do presidente. Reforma agrária não tem nada fácil. Vai ser trabalhoso, mas não é difícil ¿ disse Marcelino Gallo.

Principal dificuldade é achar terras improdutivas

O superintendente explicou que há muitos problemas para se fazer reforma agrária naquela região. A principal dificuldade, segundo Gallo, é identificar terras improdutivas para desapropriações e assentamentos.

¿ É a região com mercado de terras mais dinâmico do estado. Há um processo intenso de compra de áreas rurais por parte das empresas de celulose. Isso valoriza as terras da região e temos dificuldade em identificar áreas improdutivas.

Gallo disse que as terras também podem ser compradas. Frisou, porém, que o hectare na região custa de R$4 mil a R$5 mil, o mais caro da Bahia. No acampamento visitado por Lula, em Eunápolis, vivem 810 famílias cadastradas no Incra e à espera de terra. Para assentá-las, segundo o superintendente, serão necessários 10 mil hectares de terra.

Já o superintendente-adjunto do órgão José Leal, subordinado a Gallo, disse que há processos de desapropriação em andamento na região: duas propriedades em Itabela e Itamaraju com decreto de desapropriação assinado; outras duas, em Santa Cruz Cabrália e Eunápolis, aguardam a deliberação do presidente; e mais dois processos, referentes a duas propriedades em Eunápolis, serão enviados a Brasília nos próximos dias.

O coordenador estadual do MST, o deputado estadual Walmir Assunção (PT), disse, porém, que os processos estavam em andamento antes da visita de Lula e não podem ser incluídos na promessa do presidente:

¿ Isso não vamos aceitar. O que nós queremos para as famílias que estão no acampamento Lulão são novas terras. As que já estão em processo de desapropriação se destinarão a famílias que estão em outros acampamentos e aguardam pelo assentamento há mais tempo.

Líderes do MST continuarão a pressionar governo

Em São Paulo, líderes do MST disseram que não pretendem dar trégua ao governo federal e que a pressão vai continuar.

¿ Nem no governo do Fernando Henrique nem no governo Lula foi feita (reforma agrária) com quantidade ou qualidade. Infelizmente a reforma ainda anda a passo de tartaruga ¿ disse João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST.

Já o líder do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, elogiou as declarações de Lula, que chamou de ¿seus verdadeiros amigos¿ integrantes dos movimentos sociais. Mas para ele, ¿não basta boa vontade¿.