Título: EUA PEDEM À VENEZUELA A PRISÃO DE TERRORISTAS
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Fonte: O Globo, 26/01/2005, O Mundo, p. 24
Os Estados Unidos pediram ontem que o governo do presidente Hugo Chávez detenha os terroristas que estariam em seu território de acordo com uma lista que a Colômbia entregou à Venezuela. No Brasil, o presidente do PT, José Genoino, disse temer que a pressão dos EUA na crise ameace a estabilização do continente.
¿ Esperamos que a Venezuela examine com atenção essa informação e tome as medidas policiais necessárias ¿ disse Adam Ereli, porta-voz do Departamento de Estado.
A Promotoria colombiana informou ter enviado na quinta-feira uma lista com os nomes de oito guerrilheiros (sete das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc, e um do Exército de Libertação Nacional, ELN), que teriam se refugiado no país vizinho. O vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, chamou a lista de irrelevante e afirmou que Washington tem ¿uma conduta deliberada de agressão contra a Venezuela¿.
Chávez propõe a Bush aposta sobre permanência no poder
A crise deflagrada após a Venezuela acusar a Colômbia de violar sua soberania durante a captura de um guerrilheiro em seu território subiu de tom no fim de semana, com Chávez acusando o presidente dos EUA, George W. Bush, de ter planejado a operação, e ameaçando congelar as relações com Bogotá e limitar o intercâmbio comercial.
Num desafio direto ao presidente americano, Chávez propôs uma aposta, mostrando uma nota de um dólar:
¿ Vamos ver quem dura mais tempo (no poder): o senhor na Casa Branca ou eu em Miraflores ¿ propôs, em inglês.
Embora sejam parcos os sinais de que esteja próxima uma solução para a crise, o representante do Planalto enviado a Caracas voltou ao Brasil dizendo acreditar num acerto diplomático entre Chávez e o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, antes de 14 de março, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita a Venezuela. Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais, se reuniu no sábado com Chávez. Ontem, já em Brasília, tentou minimizar a crise. Ele disse que um ¿caminho diplomático¿ está sendo traçado pelos ministérios das relações exteriores dos dois países.
Garcia atribuiu a um momento de ¿retórica¿ as acusações de Chávez contra Bush.
¿ É normal nessa ocasiões que a retórica ganhe uma certa dimensão. Mas não acho prudente fazer comentários sobre comentários, porque isso pode prejudicar os entendimentos. E há possibilidade de entendimento ¿ disse.
O assessor especial disse que a conversa com Chávez foi muito positiva e que ele se mostrou ¿aberto ao diálogo¿. Na quinta-feira, o próprio Lula conversara por telefone com Chávez. E na quarta-feira, em Letícia ¿ cidade colombiana que faz fronteira com Tabatinga (AM) ¿, Lula conversara com Uribe.
Para Genoino, Brasil não pode se omitir
Já o presidente do PT, José Genoino, teme que a pressão dos EUA no conflito diplomático ameace a estabilização da América do Sul. Em entrevista ao site do PT, ele afirmou que o governo brasileiro deve buscar a mediação do atrito para garantir a integração entre os países sul-americanos.
¿Esse conflito não é bom para o Brasil nem para a América do Sul. O risco de internacionalização do conflito por pressão americana se confirma principalmente pelo fato de a nova secretária de Estado, Condoleezza Rice, ter citado a situação da Venezuela. E o governo brasileiro não pode se omitir, tem de buscar uma negociação para atenuar esse problema¿, disse.
O Brasil, assim como outros países latino-americanos, tenta colaborar para que os dois países voltem a se entender.
¿ Transmiti ao presidente Chávez o que havíamos conversado com o presidente Uribe e ouvi as opiniões dele. Há um caminho diplomático a ser percorrido ¿ disse Garcia.
Ele não quis dar detalhes, mas informou que as chancelarias da Colômbia e da Venezuela já iniciaram entendimentos.
¿ Não quero antecipar nada. Quanto menos se falar agora, melhores serão os resultados.