Título: Inclusão digital:um tema em Davos
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 27/01/2005, Panorama Político, p. 2

Começaram os fóruns concorrentes em Davos e Porto Alegre, com o primeiro apropriando-se de alguns temas ¿progressistas¿ do segundo, buscando e conseguindo livrar--se do estigma de ser um conclave conspiratório de cardeais do capitalismo. Um deles, a inclusão digital, é de particular interesse para o Brasil, que terá anunciada sua escolha como sede do projeto-piloto do programa Itafe ¿ Internet Access for Everyone. Acesso à internet para todos.

O Fórum Econômico Mundial, em suas últimas edições, abriu-se a novos temas, passando a discutir não apenas a economia global e seus caminhos mas também o combate à pobreza e os riscos ecológicos que o planeta enfrenta. Já o Fórum Social Mundial (FSM), dominado pelas esquerdas do mundo, persiste no dilema de traduzir em propostas e políticas viáveis suas principais bandeiras. Um impasse inevitável, pois ao contrário do de Davos, não congrega governantes nem empresários com grande poder decisório, mas ONGs, movimentos sociais e alguns partidos de esquerda, entre os quais o PT, que chegando ao poder com Lula, passou também a freqüentar Davos. Este dilema está presente no FSM, atravessa sua própria agenda e foi expresso com precisão por um de seus expoentes, o sociólogo brasileiro Emir Sader: se não buscar caminhos políticos para viabilizar suas propostas, ficará reduzido ao intercâmbio de idéias e circunscrito à sociedade civil. Ou como já disse Lula, a uma feira ideológica.

A inclusão digital é um destes temas que nasceu no campo da esquerda, refletindo a preocupação com a igualdade. No caso, a de oportunidades de acesso ao mundo digital. Este ano ele entrou na agenda de Davos. Nada vi a respeito na agenda do FSM. Por seu impacto social, sobretudo na educação, a inclusão digital interessa muito ao Brasil, um dos países mais populosos do mundo mas com apenas 8% da população conectada.

O Itafe é uma iniciativa de grandes empresas do setor de software, hardware e consultorias e foi instituído na edição de 2004 do Fórum de Davos com o propósito de potencializar a inclusão digital em países emergentes. Havia a possibilidade de o programa também começar pelo Chile ou pela Índia, mas o Brasil acabou levando a melhor, talvez por conta das iniciativas já em curso. A proposta do Itafe é disseminar o acesso com modelos de baixo custo voltados para conteúdo, dispositivos de acesso e conectividade. A escolha do Brasil será divulgada no sábado, quando o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, fará uma palestra, representando o presidente Lula, no painel ¿Solving the digital divide¿. Ao pé da letra, ¿Enfrentando a brecha digital¿. Combatendo a exclusão digital soa melhor.

O ministro vai relacionar em sua palestra os principais programas de inclusão em curso no Brasil, como o recém-lançado PC Conectado, o de terminais públicos chamado Casas Brasil e o G-Sac, matriz do E-gov (governo eletrônico) brasileiro. Há ainda as iniciativas estaduais e municipais, como os telecentros paulistanos.

O que precisa andar é a informatização das escolas públicas com recursos do Fust. A troca de comando na Anatel não pode resultar em novo atraso na licitação do sistema.

FH entre eles

O ex-presidente Fernando Henrique vinha cobrando um comportamento mais agressivo do PSDB no governo Lula. Tratou ele mesmo de dar o exemplo ontem, ao fazer as críticas mais duras no encontro tucano que resultou na posse do senador Eduardo Azeredo na presidência do partido, substituindo o prefeito José Serra, que se licenciou. Criticou os gastos do governo e rebateu acusações de Lula a seu governo, mandando-o estudar melhor os dados e os relatórios. Azeredo também avisou que o tempo da tolerância para com o governo petista acabou.

Ocorre que, ao contrário do ex-presidente, os mais importantes líderes tucanos têm responsabilidades administrativas. São governadores, como Alckmin e Aécio Neves, ou prefeitos, como Serra. Têm um limite na ação política.

Em matéria de sucessão, os tucanos apenas lembraram que têm bons candidatos. Citaram, além de Alckmin, Aécio e Tasso Jereissati, o próprio Fernando Henrique, trazendo-lhe à boca o gosto de sangue que andou cobrando dos tucanos.

Planos de Godofredo

Godofredo Pinto, prefeito de Niterói, deu ao PT uma de suas poucas vitórias no Estado do Rio em 2004. Ele andou por Brasília em busca de apoio federal para seus principais projetos. O dinheiro maior, espera do BNDES: R$ 31 milhões, aos quais a prefeitura somará R$ 20 milhões, para financiar um ambicioso plano de reengenharia do trânsito da cidade. Uma das novas vias planejadas cruza uma área do Exército, que se opõe. Pediu ajuda do ministro da Defesa, o vice José Alencar. Continua disputando com a cidade do Rio a sede do Terminal Pesqueiro, a ser financiado pelo Ministério da Pesca. E espera, neste segundo mandato, ajuda do Ministério da Cultura para concluir as obras do Caminho Niemeyer. Apesar dos rumores de que pode ser candidato a governador, jura que gostaria de governar Niterói por mais quatro anos.

SARNEY E JOÃO PAULO abrem o Congresso hoje para o IV Fórum dos Parlamentos de Língua Portuguesa, com a participação de parlamentares dos oito países que falam o português.