Título: Em Pernambuco, o abuso é generalizado
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 27/01/2005, O País, p. 3

O turismo sexual é apenas a face mais visível de um fenômeno social que começa a se estender também pelo interior de Pernambuco, onde a prostituição infanto-juvenil foi constatada pelo governo federal em 70 dos 184 municípios. Se em Recife os abusos com crianças e adolescentes são facilmente observados à luz do dia, nas principais praias, eles também ocorrem nas estradas que cortam a Zona da Mata, o agreste e o sertão do estado. Somente São Paulo e Minas têm mais municípios com prostituição infantil do que Pernambuco.

O problema vem se agravando a tal ponto que a Polícia Rodoviária Federal desencadeou no fim do ano passado a Operação Curumim, depois de ter mapeado 25 pontos de exploração sexual de menores nas rodovias, a maior parte deles nas BRs 232, 101 e 428. E 40 ONGs acabam de formar a Rede de Combate à Exploração Sexual da Criança e do Adolescente, que tem promovido campanhas educativas nas escolas.

Combate ao problema carece de intervenções mais agressivas

Em 2004 foram registrados na Diretoria de Atendimento e Proteção à Criança e ao Adolescente 4,5 mil casos de violência contra menores, 18% dos quais de origem sexual. Mas os números mostram que o combate efetivo à prostituição carece de intervenções mais agressivas.

Xexéo, cidade a 130 quilômetros de Recife, é um dos mais movimentados pontos de exploração sexual de menores. Dezenas de adolescentes ficam à margem da rodovia, perto do posto fiscal, esperando por caminhoneiros. Durante a operação da Polícia Rodoviária Federal, uma das prostitutas que atua na área informou que faz programas por R$ 20 para sustentar a família e reclamou da concorrência das meninas, que cobram apenas R$ 5 por programa.

Na operação, foram detidos 22 mulheres e três homens, liberados por falta de provas. Mas duas menores foram encontradas em companhia de um cliente de 21 anos no quarto de uma pensão.

Muitas vezes o pagamento é apenas um prato de comida. No sertão, muitas meninas são empurradas para a atividade pelas famílias.

¿ Infelizmente a atividade vem se banalizando. Hoje vemos adolescentes se prostituindo nas principais praças de Recife e não apenas no epicentro do turismo sexual. O pior é que, na periferia, esse tipo de trabalho começa a ser legitimado pelas famílias ¿ diz Maria Luiza Duarte, integrante do Coletivo Mulher Vida e da rede de ONGs que combate a exploração sexual infantil.

¿ Temos milhares de crianças em situação de risco e estamos fazendo campanha preventiva nas escolas para achar crianças e adolescentes sexualmente abusadas. Capacitamos dois mil professores, porque sabemos que o abuso sexual doméstico leva a criança a procurar as ruas e termina fatalmente na prostituição ¿ disse Roberto Lins, gerente de Combate e Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.

Uma das rotas levaria jovens prostitutas para Alagoas

Roberto Lins explica que já foram descobertas diversas rotas de exploração infantil e que uma delas leva a Alagoas:

¿ As meninas saem da Zona da Mata e vão trabalhar em bordéis do estado vizinho, onde a fiscalização é menor e não existe nenhum tipo de trabalho preventivo.