Título: Governo federal envia secretário a Dourados
Autor: Paulo Yafusso
Fonte: O Globo, 27/01/2005, O País, p. 11

Após a divulgação de imagens de crianças indígenas esquálidas em Dourados, o governo federal envia hoje à cidade o secretário de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, José Giacomo Baccarin, para tentar descobrir o que vem ocorrendo nas aldeias.

Nota divulgada ontem pelo Ministério do Desenvolvimento Social e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) informa que o governo federal repassou R$ 5 milhões ao Fome Zero Indígena em 2003, dos quais o governo estadual, comandado pelo petista José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, gastou R$ 3,8 milhões. O restante deve ser aplicado até junho.

Funai diz que índios não têm suficiente terra para plantar

O presidente interino da Fundação Nacional do Índio (Funai), Roberto Lustosa, disse que os índios da região de Dourados vivem uma situação dramática. Segundo ele, 11 mil índios guaranis-kaiowás ocupam uma área de 3.700 hectares, que não seriam suficientes para garantir sua subsistência.

¿ Eles não têm terra suficiente para plantar. E estão ilhados pelo avanço da fronteira agrícola do agronegócio. Por todos os lados, há soja e gado. Eles sobrevivem graças a empregos temporários nos canaviais e ao assistencialismo estatal ¿ disse Lustosa.

Lustosa defendeu mais articulação entre os órgãos do governo para lidar com o problema e cobrou mais investimentos da Funasa em saneamento. Ligada ao Ministério da Saúde, a Funasa é o órgão encarregado de cuidar da saúde indígena.

Administrador quer mais rigor com recursos

O administrador regional da Funai em Campo Grande, Wanderley Dias Cardoso, disse que é preciso providenciar comida de imediato para a população. Mas defendeu mais rigor na fiscalização do uso das cestas básicas distribuídas pelo governo estadual.

¿ Precisa haver um melhor acompanhamento para ver se o alimento está chegando e sendo consumido. Há boatos de desvios ¿ disse Cardoso.

Os índios não estão contentes com a atuação do coordenador da Funasa na área, Gaspar Hickmann. Um grupo encaminhou documento ao governo pedindo sua substituição.

O antropólogo Antonio Brand disse que a falta de terras contribui para aumentar a miséria nas aldeias de Dourados. No início dos anos 90, as aldeias chamaram a atenção pelo número de suicídios, que também estariam ligados à questão fundiária.