Título: Morte de crianças índias em MS será investigada
Autor: Paulo Yafusso
Fonte: O Globo, 27/01/2005, O País, p. 11

O Ministério Público Federal vai apurar a denúncia de que crianças das aldeias indígenas de Mato Grosso do Sul estão morrendo de fome. O procurador da República em Dourados, Charles Pessoa, convocou a coordenação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para se explicar em reunião na próxima terça-feira. A denúncia foi feita pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena.

Segundo Fernando Souza, do conselho, o número de crianças indígenas que morrem antes de completar um ano está aumentando. Até 1999 a média era de 140 óbitos por mil crianças índias nascidas na região. Em 2002, esse índice caiu para 46 em cada mil, mas em 2003 voltou a crescer (48) e no ano passado chegou a 64 por mil.

Atualmente estão em tratamento num centro de saúde que funciona dentro da reserva 33 crianças índias com problema crônico de desnutrição. Souza disse que os casos menos graves são tratados na própria aldeia pelos agentes de saúde. Existem 200 crianças com desnutrição nas aldeias.

¿ O que está acontecendo é um genocídio, e não podemos ser coniventes ¿ disse Souza, que é da etnia terena e vive na reserva indígena de Dourados.

¿Projetos têm que ser discutidos nas aldeias"

Para ele, os números mostram que a política de atendimento às comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul está equivocada, e que não bastam os programas de assistência como o Fome Zero, Bolsa Escola e Bolsa Família.

¿ Os projetos têm que ser elaborados em discussões nas aldeias e não nos gabinetes ¿ afirmou.

O governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, vai se reunir com sua equipe na segunda-feira para discutir soluções para a desnutrição entre as crianças indígenas. O coordenador regional da Funasa, Gaspar Hickmann, disse que o problema está ligado também à questão cultural e ao alcoolismo, um outro problema sério nas aldeias. Zeca do PT concordou:

¿ Na cultura indígena, primeiro os adultos se alimentam e depois, se sobrar, as crianças ¿ disse o governador.