Título: Imposto contra Aids e pobreza
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 27/01/2005, Economia, p. 21

O presidente da França, Jacques Chirac, propôs ontem a dois mil líderes políticos e empresariais reunidos no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, um pacote de medidas para combater a pobreza e as grandes epidemias do mundo, como a Aids. Entre as medidas estão a taxação de transações financeiras, que desagrada aos Estados Unidos, e a tributação de paraísos fiscais ¿ duas propostas que vêm sendo defendidas desde 2003 pelo presidente Lula.

Chirac disse que só a taxação de transações financeiras renderia US$ 10 bilhões por ano. É uma forma, disse ele, de o mundo rico saldar sua dívida com os pobres e cumprir suas promessas de solidariedade. Chirac lembrou que o faturamento das cem grandes empresas foi de US$ 3 trilhões em 2004, e só duas faturaram mais do que o PIB de toda a África:

¿ Esta situação comporta um grande número de ameaças. É moralmente inaceitável ¿ resumiu.

O presidente, que não pôde chegar a Davos por causa do mau tempo, falou em videoconferência e citou o Brasil duas vezes. Ele disse que o programa de combate à Aids brasileiro é, junto com o senegalês, um modelo para o mundo e lembrou que França, Brasil, Chile e Espanha estão empenhados em estudar formas de combater a pobreza.

Chirac disse que para resolver o drama da miséria o mundo precisa mobilizar apenas 3% do aumento anual da riqueza, que ficou em US$ 1,5 trilhão em 2004. O presidente francês propôs ainda a criação de uma taxa sobre o combustível usado no transporte aéreo e marítimo e a cobrança de um dólar sobre cada uma das três bilhões de passagens aéreas vendidas a cada ano no mundo.

Jacques Chirac prometeu que pedirá aos países do G-8 para, na reunião de julho, debaterem suas propostas. E arrematou:

¿ A juventude da África, da Ásia e da América Latina reivindica, com toda razão, seu direito a um futuro.