Título: Argentina mantém barreiras a produtos do Brasil
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 27/01/2005, Economia, p. 25

O Ministério da Economia da Argentina informou ontem que vai manter as restrições às importações de produtos brasileiros até que os governos dos dois países cheguem a um acordo para equilibrar o comércio bilateral. A decisão do ministro da Economia, Roberto Lavagna, foi anunciada um dia depois de uma tensa reunião entre funcionários do Brasil e da Argentina, no Rio.

Atualmente, estão vigentes medidas protecionistas aplicadas às importações de máquinas de lavar e televisores fabricados na Zona Franca de Manaus.

¿ A Argentina vai manter as restrições ao comércio com o Brasil enquanto não houver um avanço substancial (nas negociações) para estabelecer mecanismos que garantam um intercâmbio equilibrado entre ambas nações, além da definição de uma política comum de investimentos ¿ disse o porta-voz de Lavagna, Armando Torres.

Na véspera, a delegação brasileira, comandada pelo secretário geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, apresentara uma proposta aos argentinos que prevê a criação ¿de um mecanismo para a expansão do comércio bilateral e a integração produtiva das duas economias¿, segundo nota divulgada após o encontro. O Brasil rechaçou o pedido da Argentina de incorporar salvaguardas ao Mercosul, nos moldes da Organização Mundial de Comércio (OMC). Mas o governo Lula propôs a elaboração de mecanismos para evitar que um determinado país seja prejudicado pelas importações de outro dos sócios do Mercosul. O secretário de Comércio Internacional da Argentina, Alfredo Chiaradía, disse ao jornal ¿El Cronista¿ que o Brasil defende, entre outras medidas, a formação de uma comissão bilateral a ser acionada em momentos de crise.

A oferta brasileira não foi bem recebida por Lavagna, já que, segundo seu porta-voz, ¿não parece cumprir com o objetivo de uma expansão equilibrada do comércio bilateral¿.

¿ A Argentina sempre rejeitou a idéia das salvaguardas mas sustenta e continuará sustentando (sua posição) porque o Tratado de Assunção não é somente um tratado para a eliminação de tarifas. É também um tratado sobre políticas de convergência estrutural que exigem mecanismos de ajuste que devem ser definidos ¿ disse Torres.

Os setores considerados sensíveis pelos argentinos ¿ com destaque para eletrodomésticos, têxteis e calçados ¿ representam apenas 4% do intercâmbio comercial entre os dois países. A principal preocupação de Lavagna não são as importações de produtos brasileiros, e sim o forte fluxo de investimentos captados pelo Brasil, que, para ele, poderiam ser injetados na economia argentina. Segundo a Comissão Nacional da Industria argentina, ano passado o Brasil absorveu 95,5% dos investimentos estrangeiros diretos na região. Na nota divulgada terça-feira, ambos os países se comprometeram a ¿equilibrar os incentivos (fiscais) e definir uma política comum de atração de investimentos¿. Para Lavagna, este deve ser o eixo das negociações com o Brasil.