Título: Governo busca outros intermediários
Autor: Michael Guedes e Alessandro Soler
Fonte: O Globo, 27/01/2005, O Mundo, p. 30

Ao mesmo tempo em que tentam localizar o engenheiro João José Vasconcellos Júnior pelas vias oficiais, em contatos com os governos da Síria e da Jordânia, as autoridades brasileiras buscam abrir um canal extra-oficial de comunicação com alguma entidade que possa servir de intermediária na negociação com o grupo radical Esquadrões al-Mujahedin. Entre as tentativas, estão contatos com religiosos muçulmanos ligados aos grupos extremistas.

A estratégia deve ser intensificada hoje com a chegada a Amã, na Jordânia, do embaixador especial para o Oriente Médio, Afonso Celso Ouro Preto, enviado pelo governo para tratar do caso. Em todos os contatos, brasileiros e seus intermediários argumentam que o país foi contra a guerra no Iraque. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem acompanhado o assunto pessoalmente.

Xeque teria intercedido por chineses, japoneses e franceses

Relatório classificado como secreto sugere que as autoridades brasileiras procurem o xeque Abdul Salam al-Kobeissi, um importante clérigo sunita iraquiano, para pedir que ele interceda pela libertação de Vasconcellos.

O primeiro contato, afirma o documento, poderia ser feito por intermédio de um dos filhos do xeque. Kobeissi teria um canal de comunicação com grupos radicais por ser um dos líderes religiosos sunitas mais respeitados do Iraque. Ele já teria ajudado a negociar com os extremistas o fim do seqüestro de cidadãos chineses, japoneses e franceses.

O governo brasileiro tem mantido contato com representantes de Coréia do Sul, Itália, Japão e China, que já tiveram cidadãos em situação semelhante no Iraque.

O ministro Paulo Joppert, chefe do núcleo de assuntos iraquianos na embaixada de Amã, negou conhecer o xeque iraquiano, mas informou que os diplomatas esperam pelo retorno dos contatos já feitos com ¿todos os setores que podem nos ajudar a resolver o problema¿:

¿ Estamos tentando de várias maneiras chegar ao grupo extremista ¿ explicou.

Outro caminho seria a Associação dos Clérigos Muçulmanos do Iraque, organização sunita que já admitiu a possibilidade de interceder em favor do brasileiro. O embaixador do Brasil em Amã, Antonio Carlos Coelho da Rocha, reconheceu ontem que esse é um caminho possível, mas disse que não havia uma decisão sobre o assunto.

¿ As informações não são claras. Mas há organizações muçulmanas que em casos recentes provaram ser bastante úteis. Lembro do caso dos jornalistas franceses. Eles fizeram apelos pela libertação e o desfecho foi bem-sucedido ¿ afirmou o embaixador.

Jordânia está disposta a auxiliar o governo brasileiro

Ele informou que já fez contato com o governo da Jordânia na tentativa de obter ajuda na busca pelo engenheiro. Para Rocha, o governo da Jordânia tem a melhor disposição para ajudar.

¿ Há boa vontade, mas ainda não fizemos nenhuma solicitação aos jordanianos ¿ disse Rocha.

O embaixador explicou também a importância do contato do presidente Lula com o presidente da Síria, Bashar al-Assad:

¿ Ele é uma liderança importante. A Síria pode ter, e em alguns casos tem, ligação ou contatos com grupos atuantes no Iraque. Além disso, o país tem uma grande fronteira com o Iraque.

O ministro Joppert completou:

¿ A resposta do presidente sírio mostra o nosso relacionamento positivo. Enfatizamos a posição do governo brasileiro em relação ao conflito iraquiano.

Para o embaixador em Amã, o pedido de jogadores de futebol brasileiros pela vida do engenheiro pode ajudar.

¿ Futebol é um elemento muito positivo para a imagem do Brasil, especialmente nesta parte do mundo.