Título: Rezas em memória das vítimas do horror
Autor: Graça Magalhães-Ruether
Fonte: O Globo, 27/01/2005, O Mundo, p. 31

Sessenta anos depois da chegada das tropas soviéticas a um dos maiores centros da brutalidade do regime nazista, chefes de Estado de 29 países e dez mil convidados, entre eles sobreviventes do Holocausto, lembram hoje o aniversário da libertação de Auschwitz.

As comemorações começaram ontem, na igreja Mazsimiliam Kolbe, em Harmeze, a cinco quilômetros de Auschwitz, com um ato ecumênico em memória das vitimas do campo de extermínio. Kolbe, que deu nome à igreja, foi um padre católico morto em Auschwitz.

Na igreja onde ontem rezaram religiosos católicos, ortodoxos, protestantes e judeus em diversos idiomas, os nazistas depositavam as cinzas que traziam dos crematórios. De acordo com Jacek Lech, polonês que trabalha no museu de Auschwitz, em cada milímetro de terra de Oswiecim há cinzas das vítimas do campo, usadas também como fertilizante.

Oswiecim, cidade polonesa, foi batizada pelos nazistas de Auschwitz. No campo número 1 e no de Auschwitz-Birkenau, chamados de ¿fábrica da morte¿, foram assassinadas em quatro anos, 1,1 milhão de pessoas.

Janusz Marszalek, prefeito de Oswiecim, disse que a cidade está preparada para receber os visitantes, entre eles os presidentes Aleksander Kwasniewski, da Polônia; Vladimir Putin, da Rússia; Mosche Katzav, de Israel. Mas a existência do memorial e as solenidades realizadas anualmente se transformaram numa maldição para a cidade, que perdeu nos últimos anos nove mil dos seus 50 mil habitantes.

O campo de concentração é hoje o principal interesse das 600 mil pessoas que visitam o lugar todos os anos. Lá podem ser vistas latas vazias do gás que era usado para matar os judeus, bem como cabelo das vítimas, que era cortado no momento da prisão. O museu guarda ainda óculos, próteses e muletas dos judeus que foram mortos ali. As câmaras estreitas, onde não havia espaço para sentar e os prisioneiros eram forçados a ficar por horas e mesmo dias, podem ser visitadas no campo.

Na câmara de gás, é visível ainda no teto o buraco por onde era lançado o gás letal. A câmara era ligada por uma porta ao crematório. A poucos metros ficava a casa onde vivia o comandante do campo, Rudolf Hess, e sua família. Segundo Lech, os filhos de Hess brincavam junto à câmara.