Título: Informação sobre nazistas vale dez mil euros
Autor: Graça Magalhães-Ruether
Fonte: O Globo, 27/01/2005, O Mundo, p. 31

O Centro Simon Wiesenthal, que leva o nome do maior caçador de nazistas de todos os tempos, lançou ontem a operação ¿Última chance¿, cujo objetivo é capturar criminosos nazistas que ainda não foram punidos. A controvertida ação, já anunciada na Polônia, na Áustria e em alguns países do leste da Europa, oferece a recompensa de dez mil euros a quem denunciar criminosos nazistas ou colaboradores dos regimes dos países ocupados durante a Segunda Guerra Mundial.

¿ Sessenta anos depois do fim do Holocausto há, com certeza, inúmeros criminosos nazistas que nunca precisaram prestar contas de seus crimes bárbaros ¿ disse Efraim Zuroff, sucessor de Wiesenthal à frente do programa de caça a criminosos nazistas.

Sobrevivente de nove campos de concentração, Wiesenthal perdeu oitenta membros da sua família no Holocausto. Dedicou grande parte da vida a caçar os homens e as mulheres responsáveis pelo assassinato de judeus, atividade que só interrompeu aos 94 anos.

Diversos criminosos continuam em liberdade

Ao longo de sua carreira, Wiesenthal ajudou na solução de 1.200 dos piores casos de criminosos nazistas, inclusive no de Josef Mengele, procurado durante décadas e só encontrado depois de morto num cemitério de São Paulo. Wiesenthal vive hoje em Viena, onde funciona o ¿Centro de Documentação Judaica¿.

A despeito de todo o trabalho, diversos criminosos continuam em liberdade, como Alois Brunner, responsável pela deportação de milhares de judeus e que, acredita-se, esteja vivendo em algum país do Oriente Médio, provavelmente a Síria. É o caso também do médico Aribert Heim, que trabalhou no campo de concentração de Mauthausen e jamais foi encontrado. Embora desaparecido, mantém uma conta de um milhão de euros num banco em Berlim.

Quem ajudar na captura do médico, receberá (além dos dez mil euros oferecidos pelo centro) 130 mil euros, recompensa oferecida pelo governo alemão pela indicação do paradeiro do criminoso.

Oferecer dinheiro em troca de informações tem dois objetivos básicos, segundo os idealizadores dos prêmios: apelar para a ganância de criminosos nazistas já punidos, que poderiam denunciar antigos companheiros; e chamar a atenção da imprensa, de forma que a ação se torne conhecida pelo maior número possível de pessoas em todo o mundo.

¿ A ação divide bastante a sociedade e acirra os ânimos contra os judeus ¿ diz Darko Fischer, da Comunidade Judaica da Croácia.

Outros especialistas argumentam que a possibilidade de achar pessoas escondidas há 60 anos é muito remota.