Título: SERVIDORES DA FEBEM PODEM TER FACILITADO FUGA
Autor:
Fonte: O Globo, 28/01/2005, O País, p. 12
O secretário de Justiça de São Paulo e presidente da Febem, Alexandre de Moraes, suspeita que os servidores da instituição facilitaram a fuga de 202 internos da unidade de Vila Maria na noite de anteontem. Entre os fugitivos, 66 foram torturados há duas semanas por funcionários e seriam chamados pela Justiça para testemunhar as agressões praticadas pelos servidores. Desses, apenas 26 foram recapturados ontem e 40 ainda estão nas ruas. Do total de 79 torturados, só 13 não participaram da fuga.
Dos 202 fugitivos, 116 foram recapturados até o início da noite de ontem. Os 21 servidores que trabalhavam nos pátios foram afastados e vão responder a inquérito policial por prevaricação e fraude processual (obstrução à Justiça).
Nenhum dos 52 funcionários da unidade que serão denunciados por tortura pelo Ministério Público até segunda-feira estava de plantão na noite da quarta-feira, segundo Moraes.
¿ Mas entre os plantonistas não havia nenhum servidor contratado recentemente ¿ disse.
Para fugir, os internos passaram por cinco portões, três deles tipo comportas, um muro de seis metros de altura e um alambrado de cinco metros de altura onde trabalham vigias com cães de guarda. A unidade é considerada a mais segura do estado.
Internos usaram apenas duas cordas para pular muro
Apenas duas cordas feitas com lençóis foram usadas pelos fugitivos para pular o muro e alcançar a rua. Na opinião do secretário, com apenas duas cordas e um número grande de internos, a fuga demandaria um tempo considerável.
¿ Dava para perceber. Se não foi negligência, foi incompetência ¿ diz ele.
Em uma vistoria preliminar, também não foram encontradas marcas de pés nos muros, segundo Moraes.
¿ E não há marcas de arrombamentos nas portas dos quartos em que os adolescentes estavam ¿ afirmou o secretário. ¿ É estranho que a fuga tenha ocorrido na mesma unidade em que internos são vítimas e testemunhas de torturas.
O secretário lembrou ter havido quatro episódios de fugas em massa ou rebeliões que ocorreram, coincidentemente, depois que funcionários foram denunciados por torturas e punidos com prisão ou perda dos cargos.