Título: EM DAVOS, LUTA CONTRA POBREZA FAZ DE LULA ESTRELA
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Fonte: O Globo, 28/01/2005, Economia, p. 25

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na agenda dos poderosos, por causa da sua campanha mundial contra a fome e pobreza. O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, confirmou ontem, na reunião do Fórum Econômico Mundial de Davos, que convidou o presidente para o encontro do G-8 ¿ o grupo dos sete países mais ricos e a Rússia ¿ em julho, na Escócia, para discutir ações concretas neste e em outros campos. Além de Brasil, estão convidados para a reunião China, Índia e África do Sul.

Mas este não foi o único convite. O ex-presidente dos EUA Bill Clinton telefonou para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, querendo organizar com o presidente Lula um encontro também para discutir pobreza.

O presidente Lula virou referência, uma espécie de porta-voz no assunto. Ao mesmo tempo, nunca líderes políticos e empresariais que participam da reunião anual do Fórum Econômico Mundial falaram tanto de pobreza como este ano.

Fome Zero: encontro de Amorim com ministro francês

Até o chanceler alemão, Gerhard Schröder, incluiu a campanha mundial de combate à fome e pobreza como tema no encontro com Lula, hoje, em Davos. Outros temas serão a reunião do G-8 e a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Schröder virá ao Brasil nos dias 10 e 11 de fevereiro.

¿ É natural que o presidente discuta com o chanceler (alemão) a campanha de combate à fome e à pobreza. A Alemanha está cada vez mais interessada (no assunto) ¿ afirmou Amorim.

Pobreza e fome também estão aproximando Brasil e França. Anteontem, o presidente francês, Jacques Chirac, fez discurso em Davos, que virou capa de quase todos os jornais, em que propunha um pacote de medidas para levantar recursos para combate à pobreza. Todo o discurso de Chirac ¿ o tom e as propostas ¿ foi previamente combinado entre assessores do presidente francês e o Itamaraty, segundo fontes do governo brasileiro. O ministro das Finanças da França, Hervé Gaymard, terá encontro com o ministro Celso Amorim, para discutir o Programa Fome Zero.

O primeiro ministro Tony Blair defendeu ontem que o encontro do G-8 discuta todas as opções para combater pobreza e doença, sobretudo na África, incluindo as propostas de Chirac para taxar o fluxo internacional de capital, que não é aceito pelos Estados Unidos. Blair também quer incluir o Brasil no debate sobre mudanças climáticas.

Credores pressionam Argentina em Davos

Esta será a segunda vez que o presidente Lula participará da reunião do G-8. A primeira vez foi em 2003, na França, por iniciativa do presidente Jacques Chirac. O presidente aproveitou a ocasião para defender seu plano global de combate à fome e à pobreza. Mas no ano passado, por exemplo, coube aos Estados Unidos organizarem e sediarem a reunião do G-8, e o Brasil não foi convidado.

Se o Brasil ganhou destaque por sua ação social e atuação mais agressiva na política externa, o mesmo não se pode dizer da Argentina, maior parceiro do Brasil no Mercosul. Ontem, grupos de credores se articulavam em Davos para pressionar o país e melhorar sua oferta de troca de bônus de sua dívida em moratória.

Segundo o diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Charles Dallara, ainda há tempo para que a Argentina melhore os termos de sua proposta. A oferta do governo do presidente Néstor Kirchner propõe o reembolso de apenas US$0,30 por cada dólar em moratória.