Título: Na pista do brasileiro seqüestrado
Autor:
Fonte: O Globo, 28/01/2005, O Mundo, p. 28
Com a chegada do embaixador extraordinário para o Oriente Médio, Affonso Celso de Ouro-Preto, a Amã, na Jordânia, intensificaram-se ontem os esforços do Brasil para libertar João José Vasconcellos Júnior, engenheiro da Odebrecht seqüestrado no Iraque. Ouro-Preto se reuniu com funcionários do Ministério das Relações Exteriores da Jordânia e embaixadores de países que já tiveram de negociar a libertação de seus cidadãos no país ocupado. Alguns desses cidadãos foram soltos, outros executados e houve quem desaparecesse sem deixar rastro.
Na lista de países que o Brasil consultou e consultará nos próximos dias estão Síria, China, Espanha, Itália, França e Reino Unido. O governo também mantém contato com organizações e líderes islâmicos no Iraque. Mas um diplomata europeu deu uma idéia das dificuldades a serem enfrentadas:
¿ A situação no Iraque é tão caótica que é difícil fazer qualquer previsão. Não há regras, nem é fácil descobrir com quem se deve negociar. Um seqüestro pode ter sido feito por razões políticas ou por dinheiro, ou, em muitos casos, pelos dois motivos e para beneficiar tanto uma organização terrorista quanto um líder tribal ou uma gangue de criminosos.
Amorim rebate críticas ao governo
A estratégia da maioria dos governos, segundo a fonte diplomática, é armar em Bagdá uma rede de contatos que possa levar a informações ou intermediar negociações com os seqüestradores. Tanto Ouro-Preto quanto o embaixador brasileiro na Jordânia, Antonio Carlos da Rocha, e o ministro-conselheiro Paulo Joppert, chefe do Núcleo Iraque da embaixada, recusaram-se a fazer qualquer comentário sobre suas gestões. Por determinação do chanceler Celso Amorim, todas as informações sobre o caso serão divulgadas pelo Itamaraty.
Por enquanto, Ouro-Preto não viajará para o Iraque. Por motivo de segurança, o aeroporto de Bagdá será fechado hoje e só reabrirá depois das eleições iraquianas de domingo. A violência que se intensificou devido à votação pode dificultar as negociações.
Em Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial, Amorim rebateu críticas de que o governo hesitou em assumir uma posição sobre o caso:
¿ Mesmo numa situação em que não existam os problemas políticos do Iraque, qualquer seqüestro tem que ser tratado com discrição inicialmente. A partir do momento em que houve a divulgação dos motivos, passamos a agir imediatamente.
Amorim negou que Vasconcellos esteja sendo tratado mais como funcionário do que como brasileiro. Disse que o Itamaraty está em contato constante com a Odebrecht desde o inicio do caso, mas negou que a estratégia adotada seja ditada pelo empresa.
Juiz de Fora terá ato por libertação
Depois da gravação de um apelo do jogador Ronaldo, anteontem, com ampla repercussão mundial, a diplomacia da bola voltará a ser usada amanhã na primeira manifestação pública pela libertação de Vasconcellos, em Juiz de Fora (MG), onde moram pais e irmãos do engenheiro. Organizadores estão convocando a população a comparecer com camisas e bandeiras do Brasil. São esperadas cinco mil pessoas.
Vasconcellos desapareceu no último dia 19, num ataque de rebeldes a um comboio. Três dias depois, o grupo extremista Esquadrões al-Mujahedin divulgou em vídeo o seqüestro. Angustiada, a família ainda aguarda um contato dos seqüestradores.
¿ Estamos vivendo momentos de muita ansiedade ¿ disse a irmã Isabel, que chegou a ser medicada por problemas de pressão arterial.
A família do engenheiro apresentou ontem o material da campanha por sua libertação: camisas, adesivos, cartazes, faixas e bolas com estampas que mostram as bandeiras do Iraque, do Brasil e de Juiz de Fora, além da palavra ¿liberdade¿ em português e em árabe.