Título: NEVE E FOGO NOS 60 ANOS DA LIBERTAÇÃO DE AUSCHWITZ
Autor:
Fonte: O Globo, 28/01/2005, O Mundo, p. 30

Sob a neve e cercados por arame farpado, governantes, sobreviventes e familiares lembraram ontem as vítimas do Holocausto, no 60º aniversário da libertação do maior campo de extermínio nazista, Auschwitz-Birkenau, na Polônia, prometendo que atrocidades cometidas na Segunda Guerra não serão esquecidas. Velas foram acesas nas ruínas do campo, onde pereceu quase um quinto dos seis milhões de judeus mortos por nazistas.

¿ Eu estava aqui, nua, uma menina. Eu tinha 16 anos ¿ lembrou Merka Shevach.

Cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram nas câmaras de gás da Alemanha nazista na Polônia, das quais um milhão eram judias. Foram executados ainda presos soviéticos, poloneses, ciganos e homossexuais.

Presidente de Israel acusa aliados de se omitirem

Construído pelos alemães na Polônia ocupada em 1940, Auschwitz inicialmente era um campo de trabalho, mas se transformou em centro de extermínio de judeus, na chamada ¿solução final¿ nazista. As forças soviéticas libertaram os prisioneiros em 27 de janeiro de 1945 e embora os campos pudessem comportar até 400 mil pessoas, os soldados encontraram apenas 7 mil.

Uma trilha de fogo foi acesa ao longo da linha férrea por onde chegavam os prisioneiros. O apito do trem parando e o som de uma porta se abrindo foram reproduzidos no início da cerimônia em Birkenau, o principal centro de extermínio, simbolizando a chegada das vítimas. Muitas eram levadas diretamente às câmaras. As selecionadas para trabalhar tinham a cabeça raspada e um número de identidade tatuado no braço.

Mais de 300 sobreviventes, na faixa dos 80 anos, compareceram à cerimônia, ao lado do memorial entre as ruínas dos crematórios 2 e 3 de Birkenau (anexo a Auschwitz) ¿ consideradas as instalações mais avançadas a combinar câmara de gás e forno crematório. Eles foram construídos pelos nazistas em 1944 e destruídos pouco antes da chegada dos soviéticos.

¿ Ainda choro cada vez que penso em todas aquelas crianças. Nunca poderei esquecê-las ¿ disse Simone Veil, ex-ministra da Saúde da França e ex-presidente do Parlamento Europeu.

Entre os líderes estrangeiros estava o presidente da Alemanha, Horst Koehler, que permaneceu em silêncio pela responsabilidade do país. O presidente russo, Vladimir Putin, convidado de honra devido ao papel do Exército Vermelho na libertação do campo, foi longamente aplaudido ao dizer que reprimirá sinais de anti-semitismo na Rússia. O presidente Jacques Chirac, que reconheceu a cumplicidade da França no caso, disse que a Europa devia se manter unida contra o anti-semitismo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou nota afirmando que ¿deplora a barbárie que vitimou milhões de judeus¿.

Já o presidente de Israel, Moshe Katsav, acusou de cumplicidade os países ocupados na deportação de judeus para os campos de extermínio. E foi além, sugerindo que o governos aliados sabiam sobre as execuções e poderiam ter feito mais para salvar milhares de vidas.

¿ Escolheram não fazer nada ¿ acusou.