Título: TSUNAMI: SOBREVIVENTES AMEAÇADOS POR FUNGOS
Autor:
Fonte: O Globo, 28/01/2005, Ciência e Vida, p. 31
Uma infecção causada por fungos é a mais nova ameaça aos sobreviventes das tsunamis do Oceano Índico. Um estudo publicado na edição de hoje da revista médica britânica ¿The Lancet¿ alerta para o risco de casos de mucormicose, uma infecção normalmente muito rara, mas que mata até 80% das vítimas. Quanto mais ferida ou enfraquecida a pessoa, maior o risco de infecção grave. O diagnóstico da doença é difícil.
O fungo causador da doença vive no solo e em vegetação apodrecida. Em geral, é pouco provável que seres humanos tenham contato com áreas contaminadas. Porém, as ondas gigantes revolveram o solo e arrastaram vítimas ¿ muitas bastante feridas ¿ por campos infectados. Este foi o caso de um australiano, cuja doença foi relatada na ¿Lancet¿ e levou médicos a fazer o alerta.
O australiano, de 56 anos, foi diagnosticado ao voltar para Sydney. Em 26 de dezembro, ele passava férias no Sri Lanka, quando a praia em que estava foi varrida pelas ondas gigantes. O australiano foi arrastado pela mar terra adentro e foi parar numa plantação, a um quilômetro da praia. Ele sofreu grandes feridas nas pernas. A maior ferida, na perna direita, tinha mais de 25 centímetros de comprimento. Ele limpou os ferimentos com água potável e os enfaixou. Porém, ao chegar a Sydney, cinco dias depois, já apresentava febre alta.
A infecção provocou coágulos e necrose em tecidos de sua perna. Com um remédio específico e a remoção dos tecidos mortos, o fungo Apophysomyces elegans acabou por ser debelado. Mas os coordenadores do estudo, David Andresen e Annabelle Donaldson, do St. George Hospital, em Sydney, frisaram que é pouco provável que esse seja um caso isolado. ¿O maior problema é que esta é uma doença difícil de diagnosticar e tratar, principalmente em regiões cuja infra-estrutura hospitalar foi destruída¿, escreveram os dois.
A mucormicose é mais uma na lista de doenças que ameaçam os sobreviventes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou ontem que o risco de dengue e malária está aumentando devido à água estagnada. Há ainda relatos de casos de cólera, pneumonia e tétano.