Título: MAIS QUE VENENO
Autor: Teresa Cruvinel
Fonte: O Globo, 29/01/2005, Panorama Político, p. 2

Pelas contas de cada candidato a presidente da Câmara, os 513 deputados brasileiros já seriam quase 800. É natural que vendam suas expectativas de vitórias, pois o momento ajuda. Com a Casa vazia, ninguém pode avaliar corretamente a quantas anda a disputa. Certo é que, qualquer que seja o resultado, o veneno da disputa pode trazer novas convulsões internas para o PT.

Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato oficial, já fala em vitória no primeiro turno. Sua candidatura de fato decolou, tem uma comissão de frente aguerrida, e ele está demonstrando garra e apetite. Tem o apoio do governo e da direção do PT, mas a pressão tem limite quando o voto é secreto. Exemplo clássico, a negação de licença para que o então deputado Márcio Moreira Alves fosse processado. Isso em plena ditadura, apesar de toda a pressão sobre os deputados. A tática do ministro Aldo é fazer com que Greenhalgh seja aceito pela base, e não imposto a ela. Parece estar dando certo.

Se ele ganhar, a acomodação pode ser mais fácil. Sairão fortalecidos os dirigentes do partido e os líderes aliados que o apoiaram. Mas ainda assim, haverá riscos à paz interna se o PT levar adiante as ameaças de punição que começou a levantar contra o candidato avulso Virgílio Guimarães, tendo como pretexto o apoio de Garotinho.

Tentando evitar trombadas verbais, Virgílio faz um discurso que levaria um desavisado a confundi-lo com um candidato governista. Assim foi em jantar anteontem na casa do deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT), um de seus cabos eleitorais. Defendeu a política econômica até mesmo a MP 232, que vem causando tantas reações. Pode-se mudá-la, mas sem comprometer o ajuste fiscal. Insistiu que seu nome é o melhor para o governo, pelo amplo diálogo que tem na Casa e prometeu não reclamar do excesso de medidas provisórias.

¿ É como internet. Se está congestionando, precisamos de banda larga, de um novo rito que atenda ao fluxo de MPs.

Ao mesmo tempo, afaga os deputados dizendo que cada um deles ¿tem pelo menos uma boa idéia que pode ser aprovada anualmente¿.

Quando o assunto é o enfrentamento com o PT, insiste que não comete qualquer delito disciplinar, pois o partido sempre defendeu candidaturas avulsas. Mas a dele é muito mais que o veneno do passado contra o PT, que sempre o usou contra candidatos de outros partidos. É castigo vindo a cavalo, com um nome do próprio partido. Além do racha na base, há a ameaça de nova crise interna.

Já se fala no PT em data para exame de um pedido de punição ao dissidente, 11 de fevereiro. Claro que nenhuma medida será tomada antes da eleição do dia 14. O tiro poderia sair pela culatra. Se Virgílio ganhar, a derrota será do governo. Se perder, e ainda assim se tentar puni-lo, o partido ainda traumatizado pelas expulsões do ano passado pode resistir a dar mais sangue em defesa do governo.