Título: PRIMEIRO PASSO
Autor:
Fonte: O Globo, 30/01/2005, Opinião, p. 6

Não parece ter sido uma operação muito eficiente: 478 policiais ¿ sendo 36 federais ¿ utilizando 110 carros, três helicópteros e quatro motocicletas, ocuparam a Mangueira e outros três morros, numa ação que durou seis horas. Como resultado, prenderam três pessoas, mataram um criminoso, apreenderam um quilo de cocaína e um fuzil e recuperaram 11 carros roubados. Pode ser pouco. Porém, realmente importante não foi o efeito da operação, mas que ela tenha sido viável. Porque finalmente, depois de um longo período em que várias tentativas malsucedidas fizeram parecer impossível o entendimento, os governos do Estado do Rio e federal chegaram a um acordo para o combate integrado ao crime.

Sem esse trabalho conjunto ¿ que terá de ser especialmente eficaz e duro justamente para compensar a demora do acordo ¿ qualquer progresso seria virtualmente impossível. As drogas que os traficantes vendem vêm de outros estados ou do exterior; as armas que usam, como os fuzis AR-15 e AK-45, também não são fabricadas no Rio; as granadas são das Forças Armadas, até argentinas. E como é do narcotráfico que se derivam os gravíssimos problemas de segurança do estado, fica evidente que a repressão apenas a cargo do aparelho de segurança estadual jamais teria chances de sucesso, mesmo que fosse conduzido com a maior eficácia e por policiais honestos e bem-intencionados na sua totalidade ¿ o que está longe de ser a realidade.

O reconhecimento desta situação pelas autoridades estaduais e federais, ainda que tardio, é de qualquer forma bem-vindo. A presença de forças do governo central na luta contra o crime organizado ¿ a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e provavelmente também a Força Nacional (composta por PMs de todos os estados) ¿ torna plausíveis as metas da Secretaria de Segurança, de apreender armas em grande quantidade e fazer capturas em massa de integrantes das quadrilhas.

A operação de quinta-feira demonstrou que a ação integrada é possível. Daqui para a frente, a expectativa é de que essa conjunção de esforços cresça em eficiência, inclusive com o suporte das Forças Aramadas, e devolva à população parte da tranqüilidade há tanto tempo perdida.