Título: COTAS EM RITMO LENTO
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Fonte: O Globo, 30/01/2005, O País, p. 8

O programa de concessão de bolsas para facilitar o acesso de estudantes negros ao Itamaraty ainda está engatinhando. Dos 50 candidatos que receberam o benefício e fizeram o concurso até agora, apenas três foram aprovados para seguir a carreira. O programa foi lançado em 2002, último ano do governo Fernando Henrique. A idéia era corrigir uma distorção histórica: o Ministério das Relações Exteriores não tem embaixadores negros.

¿ O percentual é baixo, mas é preciso considerar que o concurso para o Rio Branco tem altas exigências e é muito competitivo ¿ disse o ex-presidente, sugerindo que o programa seja estendido a estudantes pobres.

Em 2002, o governo distribuiu 20 bolsas de R$15 mil para negros selecionados num teste. No ano seguinte, já no governo Lula, o Itamaraty aumentou o valor para R$25 mil e ampliou o número de beneficiários para 30. Os estudantes recebem ajuda para bancar parte dos custos da preparação.

Foi este apoio extra que permitiu à médica Marise Ribeiro Nogueira Guebel, de 40 anos, diminuir sua jornada diária de trabalho, intensificar os estudos e passar no concurso de 2003. Marise também é um dos raros exemplos de candidatos de origem humilde que entraram na diplomacia brasileira. Filha de uma agente administrativa e de um torneiro mecânico, ela se formou em medicina e, com ajuda de bolsas, estudou inglês, francês e fez uma pós-graduação.

Foi a base necessária para ela enfrentar o desafio de entrar no Itamaraty. Perguntada sobre a importância da presença do negro na diplomacia, Marise não pensa duas vezes.

¿ É a importância do negro no mundo. É a importância da diversidade, que é sempre positiva. Em termos poéticos, eu poderia dizer: a diversidade enfeita o mundo ¿ afirma.