Título: CARREIRA DIPLOMÁTICA É SONHO PARA POUCOS
Autor:
Fonte: O Globo, 30/01/2005, O País, p. 8

Nos últimos dez anos, o Itamaraty fez algumas mudanças no dificílimo concurso de admissão na carreira diplomática. O francês e o inglês perderam o caráter eliminatório, mas atravessar os portões dourados do Instituto Rio Branco ainda é um sonho reservado a poucos, a maioria deles de classe média e mais abastados. Estudantes, professores e especialistas no assunto são unânimes em afirmar que, ainda hoje, só passam no concurso do Itamaraty candidatos que tiveram uma sólida formação em boas escolas particulares ou nos raros centros de excelência do ensino público de algumas grandes cidades.

Na maioria das vezes, os candidatos ainda são obrigados a fazer caros cursos preparatórios de alto nível por mais de dois anos para concorrer com chances reais de sucesso. Com mais de 30 anos de experiência de ensino a diplomatas e candidatos à diplomacia, a professora Sara Burkitt Walker diz que grande parte dos concorrentes ainda se submete ao concurso três ou até quatro vezes até a almejada aprovação final.

A disputa é acirrada, milhares de candidatos se inscrevem, mas o nível de exigência é tão alto que quase todos os anos sobram vagas. Ano passado, foram preenchidas 39 das 40 vagas abertas.

¿ Normalmente o candidato faz o teste duas, três ou até quatro vezes. Mas, claro, tem gente brilhante que passa da primeira vez ¿ afirma Sara Walker.

Maioria dos concorrentes fica na metade do caminho

A professora coordena o ensino de inglês do Rio Branco e é dona de um dos mais tradicionais cursos de inglês direcionados ao vestibular do Itamaraty, no Lago Sul. Segundo ela, o concurso é complexo, demora em média três meses e exige um alto grau de conhecimento de português, inglês, economia, direito, história, geografia e política internacional. São conhecimentos que não se adquire de última hora, nem mesmo por concorrentes mais abnegados.

O concurso é realizado em três etapas, em geral de agosto a novembro de cada ano. Na primeira fase, os candidatos fazem provas de múltipla escolha, como num vestibular comum. É o começo da longa travessia, mas a maioria absoluta dos concorrentes fica na metade do caminho. Na segunda etapa as cobranças aumentam e, mais uma vez, a degola é inevitável.