Título: NO INÍCIO DA CARREIRA, REVISÃO DO CÓDIGO CIVIL
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 30/01/2005, O País, p. 10

Superadas as desconfianças, Silvia Pimentel assumiu uma tarefa monumental: fazer uma revisão do Código Civil Brasileiro para retirar os artigos que consagravam a desigualdade entre homens e mulheres. O conjunto de leis de 1916/1917, por exemplo, garantia a chefia masculina da família, o pátrio-poder e dava dez dias ao homem para anular um casamento se ele descobrisse que a mulher não era mais virgem.

¿ Lembro direitinho: comecei a marcar com um pontinho todos os artigos que se referiam a mulher e com dois os que discriminavam a mulher. Quase todas as vezes os pontinhos coincidiam ¿ conta Silvia.

Diante de uma garrafa de conhaque Remy Martin, ela e a feminista Floriza Veruti decidiram rever todas as leis do Código e, muito trabalho depois, elaboraram o Novo Estatuto da Mulher, entregue ao então senador Franco Montoro. As idéias se transformaram em dez projetos de lei, aos poucos aprovados, sendo toda a proposta incorporada ao novo Código Civil ¿ o direito de devolver mulher não-virgem, por exemplo, só caiu em 2000.

A essa altura ela já estava na militância e não parou mais. Com Ruth Escobar, Leilah Assumpção e Lélia Abramo fundou a Frente Feminista e o Conselho da Mulher de São Paulo, foi candidata a deputada federal pelo PMDB numa chapa com Ruth Escobar para deputada estadual e Ida Maria Jantson para vereadora e teve participação importante nas Diretas Já. Conheceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na época do sindicalismo do ABC, ao fundar departamentos femininos nos sindicatos.

¿ Nesta época aprendi a tomar rabo de galo, é uma delícia ¿ relembra

Relatório sobre medidas contra discriminação

Profissionalmente, ocupou cargos no governo estadual e na PUC. Também redigiu o relatório do governo brasileiro sobre as medidas tomadas contra a discriminação da mulher, apresentado em 2002 ao comitê da ONU, o mesmo para o qual foi eleita ¿ é uma obrigação dos países prestar contas a cada quatro anos. A falha maior apontada pelas atuais colegas de Silvia era a ausência de legislação específica contra a violência doméstica.

¿ No próximo relatório, o Brasil tem obrigação de nos dar explicação ¿ diz.

Obrigação talvez seja forte demais. Embora a convenção seja um instrumento jurídico, a ONU, com muita freqüência, não tem poder para impor o cumprimento dos compromissos. Silvia não desanima. Para ela, é uma grande oportunidade lutar contra a onda conservadora:

¿ Sou diplomata mas sou radical. Como mulher do Terceiro Mundo, acho que a prioridade é a questão da saúde e da educação. E a mais delicada é a questão do aborto. A mortalidade materna tem como causa a ilegalidade do aborto, que adoece e mata.