Título: BRASILEIRA LUTA NA ONU CONTRA DISCRIMINAÇÃO
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 30/01/2005, O País, p. 10

Foram meses de campanha. Ela teve de convencer eleitores tão diferentes quanto uma especialista na questão das mulheres de Samoa e outra da Itália em tempos de Silvio Berlusconi. Visitou 120 dos 177 votantes para defender sua eleição, angariou apoio de 13 grupos feministas brasileiros e viajou muito para costurar a sustentação de sua candidatura. O estilo Academia Brasileira de Letras de fazer campanha não tirou o suspense da votação, feita em escrutínio secreto.

Mas a brasileira Silvia Pimentel venceu e tomou posse este mês no Comitê contra a Discriminação da Mulher da Organização das Nações Unidas (ONU). São 23 experts do mundo inteiro ¿ 22 mulheres e um homem ¿ com mandato de quatro anos para acompanhar e monitorar o cumprimento dos compromissos assumidos por 177 países que assinaram a Convenção dos Direitos da Mulher ¿ uma das sete grandes convenções do sistema internacional dos direitos humanos da ONU.

Na estréia, Silvia foi eleita vice-presidente do comitê e já sabe qual é a briga maior que terá pela frente:

¿ A grande questão vai ser segurar o estado laico, para evitar o retrocesso, o movimento de igrejas e conservadores querendo confundir Estado e Igreja. Isto é uma ameaça aos direitos da mulher em lugares tão diferentes quanto os Estados Unidos, o mundo muçulmano e a América Latina.

Vida política e profissional iniciada na década de 70

Professora de filosofia legal da PUC de São Paulo, de 64 anos, ela tem um jeito meio Marta Suplicy de ser: além de uma certa semelhança física com a ex-prefeita de São Paulo, veio também de uma família da elite paulistana, estudou no mesmo colégio para moças de fino trato, o Des Oiseaux, casou-se com um fazendeiro, teve quatro filhos, divorciou-se e só emergiu para a vida profissional e política no meio da década de 70, ao fazer uma tese de doutorado sobre o direito das mulheres no Brasil.

¿ Nessa época me fascinei pelo movimento feminista, mas as mulheres tinham às vezes dois pés atrás comigo por causa da minha carinha de burguesa ¿ lembra.