Título: FSM TEME QUE VENEZUELANO SE APROPRIE DO EVENTO
Autor:
Fonte: O Globo, 30/01/2005, Economia, p. 35

Em sua palestra, o presidente da Venezuela proporá que os povos de todo o mundo respondam aos desafios da globalização e das políticas neoliberais. O mediador da mesa na qual Chávez falará, o sociólogo Cândido Grzybowski, do Conselho Internacional do Fórum Social, disse que, como outros ativistas, teme a apropriação que Chávez poderá tentar fazer do encontro mundial das esquerdas, caso seja muito aclamado e consiga levar a próxima edição para seu país.

- Acho que o Chávez tem um aspecto ruim do velho nacionalismo, uma visão simplista dos Estados Unidos, mas o referendo popular da Venezuela lhe deu uma grande estatura para a América Latina. Ele aprendeu que não é com a bota que se faz a democracia. O lado bom é que mesmo do seu modo truculento, ele expõe muito bem a questão do imperialismo americano para o mundo.

"O Chávez não substitui Lula, mas ocupa um vazio"

A importância de Lula não é comparada à de Chávez, enquanto líder de esquerda. Para os intelectuais e organizadores do FSM, embora faça um governo considerado decepcionante, Lula tem vantagens: carrega a bandeira da fome e tem peso nas relações internacionais e na política externa.

Maria Luísa Mendonça, da Rede Social de Justiça e membro do Conselho Internacional, diz que Lula perdeu um pouco a notoriedade que o Fórum sempre lhe aferiu.

- A conjuntura mudou. O público que aplaudiu Lula no Fórum Social não era o mesmo que há dois anos o ovacionou, era mais despolitizado, aplaudia até antes dele concluir a frase, não era espontâneo. Há uma insatisfação e ele foi até vaiado. O Chávez não substitui Lula, mas ocupa um vazio, porque o Fórum tem críticas a ele, mas também muito interesse na conjuntura venezuelana.

Truculento ou não, Chávez é esperado por milhares de ativistas no FSM. Centenas de cartazes amarelos - uma das cores da bandeira venezuelana - estão espalhados por Porto Alegre para divulgar o principal evento do presidente venezuelano na cidade: a palestra "O Sul-Norte dos Povos".

Visita a assentamento do MST com filha de Che

De manhã, ele visita o assentamento do MST acompanhado de ativistas como a cubana Aleida Guevara, filha de Ernesto Che Guevara, e a argentina Hebe Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio, entre outras presenças constantes e simbólicas do FSM. Chávez assinará dois acordos protocolares com o MST: a criação de uma escola de agroecologia para a América Latina, que fará na Venezuela, e de um campo de sementes crioulas, para a preservação do patrimônio genético da América Latina. Além disso, inaugurará um "bosque da solidariedade".