Título: Sertãozinho: nome de interior, vigor de capital
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 30/01/2005, Economia, p. 39
O movimento de carros e pedestres que passavam pelas ruas ao redor da Praça 21 de Abril era intenso por volta do meio dia da última quinta-feira. Nada que lembrasse o clima pacato, típico da hora do almoço nas cidades do interior. Encravada no centro de Sertãozinho, distante 350 quilômetros de São Paulo, a agitação da praça era um espelho do vigor econômico que vive a cidade. Com pouco mais de 94 mil habitantes, Sertãozinho é o coração industrial da próspera região sucroalcooleira de Ribeirão Preto e colhe os frutos da forte expansão do setor.
As 35 usinas de açúcar de álcool da região estão entre as maiores e mais produtivas do país, que juntas exportaram 600 milhões de litros de álcool em 2004. Isso equivale a quase um terço de todo o álcool brasileiro exportado no ano passado, cerca de 2,2 bilhões de litros segundo estimativa da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única).
Além de sediar seis usinas ¿ entre as quais a emblemática Santa Elisa, do grupo Biagi, fundada há 60 anos ¿ Sertãozinho reúne cerca de 400 indústrias especializadas, que atendem os produtores de álcool e açúcar de todo o Brasil e de diversos países.
Arrecadação chegou a R$101 milhões em 2004
Pela estimativa do Centro das Indústrias de Sertãozinho e Região (Ceise), as exportações de álcool, açúcar e equipamentos para usinas renderam US$200 milhões às empresas em 2004. O açúcar ainda é o carro-chefe das exportações (quase 60% do total), e as vendas de equipamentos, como turbinas e caldeiras, respondem por mais de 30%.
A TGM Turbinas, fundada em 1991, nasceu como prestadora de serviços, passou a fabricar turbinas em 1996 e, na crise que se seguiu no setor canavieiro, passou a produzir equipamentos também para a geração de energia e outros setores como o de papel e celulose, siderurgia, petroquímica e alimentos. E hoje exporta para mais de dez países, entre eles os EUA e a Alemanha. Mas a retomada da produção nacional de álcool já engorda a sua contabilidade.
¿ Como diversificamos nossos mercados, a puxada atual do setor sucroalcooleiro fez crescer em 20% as nossas encomendas ¿ diz Marcos Henrique Mussin, diretor comercial da TGM, que tem 450 empregados e está investindo numa nova fábrica de redutores para moendas, um investimento de R$15 milhões que empregará mais 150 metalúrgicos.
Reflexo do ressurgimento do ciclo da cana na região, nos últimos quatro anos a arrecadação total de Sertãozinho cresceu 87,5%, alcançando R$101,47 milhões em 2004. Somente com ICMS, a cidade arrecadou R$26,55 milhões no ano passado, 32,5% mais do que em 2003.
¿ Os números refletem o bom momento econômico que a cidade vive ¿ diz o secretário de Indústria e Comércio de Sertãozinho, Marcelo Pelegrini.
No ano passado, houve um saldo de 940 novos empregos com carteira assinada na indústria local, o equivalente a 10% do número total de postos do setor, que hoje emprega 9,5 mil pessoas. No comércio, o número de postos de trabalho cresceu mais: 12,6% em 2004.
Eliane Cristina Rodrigues estava desempregada há um ano quando foi contratada para trabalhar na Coronelzinho, uma loja de roupas infantis. A loja acabara de se instalar num ponto nobre da Praça 21 de Abril, que na época ainda estava em obras, nas quais a prefeitura gastou R$1,5 milhão.
Eliane é uma das dez funcionárias contratadas pelo empresário Paulo Henrique Andrucioli, que trocou um ponto bem menor por uma loja na praça.
¿ A cana está em alta e as indústrias estão a todo vapor. Hoje faturo 40% mais que há um ano ¿ comemora Andrucioli.