Título: O novo racha
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 30/01/2005, Panorama Político, p. 2

Os petistas que deixaram o PT escolheram um bom palco para o anúncio do racha, o Fórum Social Mundial, e um número redondo e vistoso de assinaturas: cem. Afora Plínio de Arruda Sampaio Júnior, os demais são militantes de base já afastados, e a saída deles não afetará a dinâmica do partido nem o tamanho da bancada. Mas a cada racha o PT vai ficando mais parecido com um partido convencional.

O velho PCB viveu processo semelhante, produzindo estilhaços seguidos que geraram outras organizações da esquerda brasileira. Por sua moderação, acabou virando o ¿partidão¿, e depois da derrocada soviética, transformou-se no PPS.

Dissidências o PT já teve muitas. Mas até antes da eleição de Lula, quase todas foram ¿pela direita¿, como dizem eles para designar o rompimento de militantes com posturas mais moderadas ou centristas. É o caso dos três deputados ¿ Airton Soares, Beth Mendes e José Eudes ¿ que desobedeceram o partido e votaram em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e o de Luiza Erundina, que precisou afastar-se do partido para se tornar ministra de Itamar Franco. O ex-deputado Eduardo Jorge, hoje no PV e secretário de José Serra, teve seu primeiro atrito com o partido quando votou a favor da CPMF, contrariando decisão da bancada. Depois vieram outras divergências, da mesma ordem. Antes da eleição de Lula, o único racha ¿pela esquerda¿ foi o da Convergência Socialista, grupo radical que saiu do PT para fundar o PSTU.

Com a chegada do partido ao governo houve a expulsão da senadora Heloisa Helena e de mais três deputados que votaram contra a reforma previdenciária e agora estão fundando o P-Sol. Com eles saíram também figuras expressivas, embora sem mandato, como o ex-deputado Milton Temer e o filósofo Leandro Konder. E agora, este grupo de cem militantes, sob a liderança de Plínio de Arruda Sampaio Júnior.

Eles podem não fazer falta ao partido, seja na bancada ou no momento sindical (embora haja entre eles um diretor da CUT). Mas com cada racha pela esquerda o PT ganha mais opositores em seu campo de origem. E vai deixando de ser o que foi para se transformar num partido mais de centro, mais propriamente social-democrata. Mas como esta parece ser a opção do partido, estas perdas simbólicas serão compensadas pela maior unidade e pela redução dos conflitos internos. Tudo tem dois pesos.