Título: Madeireiros também bloqueiam Rio Tapajós
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 01/02/2005, O País, p. 10

Os madeireiros que desde quarta-feira da semana passada bloqueiam a rodovia BR-163, conhecida como Santarém-Cuiabá, iniciaram ontem o bloqueio de trechos do Rio Amazonas e de seus afluentes na região. O primeiro trecho interditado foi o do Rio Tapajós, em frente ao porto de Santarém, a oeste do Pará.

Balsas e pequenas embarcações de madeira foram atravessadas no canal do Tapajós, o trecho mais profundo do rio, usado pelos navios de grande calado. O trecho bloqueado tem uma extensão de cerca de 500 metros. Fora deste trecho, grandes embarcações encalham. A intenção dos manifestantes é fechar pelo menos mais três trechos de rio em portos diferentes. O de Óbidos, município próximo a Santarém, é um dos mais visados pelos madeireiros.

Na Santarém-Cuiabá a situação é caótica. Toras de madeira bloqueiam a rodovia. Apenas ambulâncias podem passar. Segundo a Polícia Militar, o engarrafamento chega a 25 quilômetros dos dois lados da estrada. Cerca de dez mil pessoas participam do bloqueio. Centenas de caminhões estão parados.

A continuidade dos protestos vai depender do que o governo decidir em relação às reivindicações dos madeireiros. Eles querem a revogação da decisão do Ibama de suspender os projetos de manejo florestal e, principalmente, que seja revista uma portaria que exige o recadastramento de áreas de posse das madeireiras que tenham mais de cem hectares.

O prazo terminou ontem e os madeireiros afirmam ser impossível cumprir o prazo. Quem não fizer o recadastramento terá a documentação de terras cancelada pelo Incra.

¿ É irreal querer um recadastramento num prazo tão curto. Não há engenheiros florestais nem equipamentos suficientes ¿ reclamou o empresário Luís Carlos Tremonte, presidente da Associação dos Madeireiros.

Segundo ele, as manifestações só serão suspensas se o governo atender às reivindicações. Com a interdição da rodovia Santarém-Cuiabá um dos municípios mais afetados é Novo Progresso, no sudoeste do Pará. Com cerca de 30 mil habitantes, a cidade corre o risco de um blecaute. A energia é fornecida por uma usina termoelétrica e as carretas que transportam o óleo diesel estão bloqueadas. Ontem, o município amanheceu sem luz.