Título: Resultado renova apostas no próximo alvo: Irã
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/02/2005, O Mundo, p. 25

As efusivas autocongratulações pela eleição no Iraque ouvidas ontem em corredores e gabinetes da Casa Branca e do Pentágono terminavam invariavelmente com alguém fazendo a mesma pergunta: ¿E agora, quem será o próximo?¿ As respostas coincidiam: ¿Tudo indica que será o Irã.¿

Não se trata de especulação. O Pentágono já vem realizando operações de reconhecimento de alvos a serem eventualmente bombardeados naquele país, caso o presidente George W. Bush decida pela via armada. Dias atrás, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse que a diplomacia seria o caminho prioritário dos EUA na busca de entendimento com o Irã. Mas, ao mesmo tempo, o vice-presidente Dick Cheney advertiu que ¿outros meios serão utilizados caso sejam necessários¿.

Teerã tem relações estreitas com xiitas iraquianos

O objetivo básico da iniciativa americana seria convencer o governo iraniano a não influir no Iraque ¿ que deverá ter um governo de maioria xiita, formado por pessoas que há décadas mantêm estreito relacionamento com o Irã. Algumas delas se exilaram lá, ao longo da ditadura de Saddam Hussein.

Há ainda a questão nuclear. Em março vencerá o prazo para que o Irã chegue a um acordo definitivo nas negociações iniciadas com a Europa, comprometendo-se a suspender o enriquecimento de urânio. Se tal compromisso ¿ hoje temporário ¿ não for assumido permanentemente até então, será ainda maior a probabilidade de ataques americanos ao Irã.

Plano de guerra americano teria sido atualizado

O Comando Central dos EUA, sediado em Tampa, na Flórida, já recebeu ordens para que seus estrategistas atualizem o plano de guerra que é regularmente revisado, de forma a prever inclusive uma grande invasão do Irã por terra e ar. Enquanto isso, o subsecretário de Defesa, Douglas Feith, vem trabalhando com o governo de Israel em planos adicionais de ataques a instalações nucleares iranianas.

¿ O uso da força, ou pelo menos uma ameaça de utilizá-la, é a melhor maneira para lidar com o Irã ¿ disse Patrick Clawson, especialista em assuntos iranianos e subdiretor do Instituto de Washington para Política no Oriente Próximo.

De acordo com os planos, os EUA utilizariam bases em Iraque, Afeganistão e Ásia Central para atacar alvos específicos do setor nuclear no Irã. Submarinos israelenses participariam das operações. Os defensores dessa estratégia acreditam que ela poderia inclusive propiciar a derrubada do regime iraniano.

Uma pesquisa de opinião realizada diariamente via internet pela ¿Persian Journal¿ mostrava ontem que 51,6% acreditam que os mulás (líderes religiosos) iranianos poderiam ser depostos pela força.