Título: Saud Abu Mahfouz: `É como negociar com fantasmas¿
Autor: Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 01/02/2005, O Mundo, p. 26

Membro da Frente de Ação Islâmica, braço político do grupo extremista Irmandade Muçulmana, o xeque Saud Abu Mahfouz disse ao GLOBO que o governo brasileiro deveria mobilizar líderes sunitas para tentar libertar João José Vasconcellos Júnior. Ele acha que a mensagem do jogador Ronaldo não surtirá efeito.

Quem são os militantes do Ansar al-Sunna?

SAUD ABU MAHFOUZ: Há hoje de 40 a 70 grupos de resistência iraquiana. Destes, 15% são nacionalistas. Seus militantes são quase todos membros do Baath (partido de Saddam Hussein) que ficaram na rua quando os EUA desmantelaram as instituições e as forças de segurança. Mas 85% são islamitas. E um dos maiores é o Ansar al-Sunna.

O que quer o Ansar al-Sunna?

MAHFOUZ: Apesar de esses grupos se dizerem islamitas, o Islã condena o seqüestro de inocentes. Os rebeldes islamitas sentem que perderam a liberdade e a dignidade. E que os seqüestros são a forma mais rápida de atrair a atenção dos meios de comunicação e dos povos do Ocidente para o que acontece no Iraque.

Como o governo pode negociar com eles?

MAHFOUZ: A melhor forma de chegar a eles é enviando mensagens por líderes religiosos e meios de comunicação. O Brasil e especialmente o presidente brasileiro gozam de enorme simpatia junto ao mundo árabe e aos muçulmanos. Mas muitos desses militantes são jovens, não acompanham política internacional. Vêem TV e ouvem seus líderes religiosos. É preciso enviar mensagens lembrando que o Brasil é um país amigo e dizendo que seria um erro para a causa deles matar um brasileiro. Se o Ansar al-Sunna tivesse um líder conhecido, ou sede, seria mais fácil. Mas não tem. Negociar com eles é como negociar com fantasmas.

O que achou do apelo do jogador Ronaldo?

MAHFOUZ: Acho que não serve. Uma estrela de futebol não pode influenciar a mente de uma pessoa que acha estar cumprindo uma missão religiosa.