Título: John Lennon errou?
Autor: Bruno Porto
Fonte: O Globo, 01/02/2005, Megazine, p. 8

Para muita gente, o Fórum Social Mundial ¿ cuja quinta edição ocupou Porto Alegre da última quarta-feira até ontem ¿ é um baile de carnaval disfarçado de passeata de protesto. Segundo esses críticos, a maioria dos participantes do evento fala muito mas não diz nada e só quer mesmo é beijar na boca, tocar Raul Seixas no violão e aplaudir o pôr-do-sol. Mas também há quem diga que o o encontro, que reúne as esquerdas do mundo todo, é fundamental para o cenário político internacional. Em Porto Alegre, argumentam seus defensores, são debatidos temas determinantes para o futuro da humanidade, como o impacto da reeleição de Bush, a reforma da ONU, a renegociação das dívidas externas dos países em desenvolvimento e o Oriente Médio sem Yasser Arafat. As resoluções devem ajudar a pautar em 2005 as atividades das ONGs e movimentos sociais que participaram do encontro.Mas qual dos dois lados está certo, afinal? A julgar pelo último Fórum, que este ano foi prestigiado por ONGs e movimentos sociais de 122 países, ambos têm uma pouco de razão. Durante o evento, muitas pessoas deram mais atenção para as festinhas e shows de reggae, MPB e hip hop do que para as discussões que aconteceram nas centenas de tendas espalhadas pelas margens do Rio Guaíba. Outras participaram dos debates, mas estavam mais interessadas em aparecer do que em acrescentar.Na contramão, houve gente que encarou o Fórum com seriedade. Empolgados com o fato de poderem conversar sobre temas como o combate à miséria e a Guerra do Iraque com ministros, ganhadores do Prêmio Nobel e escritores renomados, muitos deixaram de almoçar ou jantar para não perder os debates.Desse grupo fizeram parte os brasileiros Thiáguia e Edward Scheibe, o inglês Matthew Lea, a chilena Clara Amarah, o africano Tounkara Tambake e a belga An Maeyens. Engajados, eles acreditam no lema do Fórum, que diz que ¿Um outro mundo é possível¿.Cada um do seu modo, eles acham que estão contribuindo para mudar tudo isso que está aí. Thiáguia, que se diz amigo dos peixes, luta para que as pessoas deixem de comer qualquer coisa de origem animal.Quase dezesseis anos depois da queda do Muro de Berlim, Edward continua acreditando que o comunismo é o melhor caminho para transformar a realidade.A chilena Clara provavelmente deixaria Glauber Rocha orgulhoso: com uma câmera na mão, ela espera ajudar os camponeses necessitados do seu país. Já Tounkara crê que os versos contundentes do rap são a melhor arma cultural. Dona de uma passaporte recheado de carimbos de países diferentes, An se diz uma ¿aberração do turismo solidário¿. Como se vê, os seis discordam de John Lennon, um dos grandes responsáveis pela revolução cultural que sacudiu o mundo na década de 60. Para eles, definitivamente o sonho não acabou.