Título: Engenheiro pode estar ferido
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 29/01/2005, O Mundo, p. 30

Análise de empresa de segurança indica que brasileiro teria sido atingido no ombro

Seqüestrado há dez dias no Iraque, o engenheiro João José Vasconcellos Júnior, da Odebrecht, pode ter sido ferido no ombro durante a ação dos integrantes do grupo extremista Esquadrões al-Mujahedin. Essa pelo menos foi a primeira informação dada à empresa e à sua família pela empresa britânica Janusian Securities, responsável pela segurança dos engenheiros e das instalações da construtora no Iraque A possibilidade de o brasileiro estar ferido foi confirmada ontem por uma fonte que acompanha as buscas no Iraque.

Embora estivesse usando um colete à prova de balas, Vasconcellos poderia estar ferido pela posição em que foram encontrados as cápsulas das balas no carro em que ele estava. O colete que usava teria sido retirado e abandonado pelos seqüestradores na cena do crime. Nas fotos divulgadas, aparece um colete em cima do carro em que estava o engenheiro.

A família continua sem informações sobre o destino do engenheiro. Apenas um contato foi feito, por meio de intermediários, com representantes da Janusian no Iraque. Mas a única mensagem transmitida foi que havia sido seqüestrado um brasileiro.

Ação visava a capturar brasileiro

A família suspeita que a ação possa ter tido como objetivo capturar o principal funcionário da construtora que participava da reconstrução de uma usina termelétrica na região de Baiji, 180 quilômetros ao norte de Bagdá. Vasconcellos estava indo embora do Iraque quando foi seqüestrado. Pegaria um avião para voltar ao Brasil . Viajava no terceiro carro de um comboio, escoltado por dois veículos à sua frente e um atrás.

- Os dois carros da frente passaram. Era um comboio de quatro carros. O interceptado foi exatamente o que ele estava. A ação foi muito direta no carro dele - disse Isabel Vasconcellos, irmã do engenheiro.

Segundo uma fonte que acompanha as negociações, os outros dois carros que escaparam da emboscada teriam sido imobilizados pela troca de tiros. Os carros em que o engenheiro e seus seguranças viajavam ficaram crivados de balas. Dois seguranças foram mortos durante o ataque.

Os dois primeiros carros do comboio, também responsáveis pela segurança do brasileiro, afastaram-se do tiroteio num primeiro momento e, seguindo os procedimentos de segurança, teriam retornado para tentar resgatá-lo, sem sucesso.

Hoje, a família e os amigos do engenheiro farão uma manifestação pela libertação de Vasconcellos em frente à Câmara Municipal de Juiz de Fora.

- Mas nossa intenção é que o ato não fique restrito a Juiz de Fora. Pedimos que o povo do Brasil coloque bandeiras nas janelas, camisas da seleção brasileira e de alguma maneira mostre a sua solidariedade, porque queremos que essa mensagem chegue até eles (os terroristas) - disse Isabel.

A família convidou para participar da manifestação entidades religiosas, organizações não-governamentais e políticos mineiros. A pedido da família, todos devem ir vestidos de verde, amarelo e branco. Com o apoio de doações, os parentes do engenheiro produziram 950 camisetas com fotos dele e mensagens pedindo a sua liberdade, escritas em português e árabe.

Embora as eleições no Iraque preocupem os negociadores, a família do engenheiro espera que a situação dele melhore após o pleito:

- Temos esperança de que eles só não tenham libertado nosso irmão por causa das eleições - disse Isabel.

Ontem, o Itamaraty informou à família que representantes de organizações iraquianas que participam do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, ofereceram ajuda nas buscas por Vasconcellos.