Título: NOVA MEDIDA DO BC PODE SEGURAR QUEDA DO DÓLAR
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Fonte: O Globo, 02/02/2005, Economia, p. 24

Num dia em que o dólar chegou a ser cotado a R$2,599 ¿ menor patamar em dois anos e meio ¿ o Banco Central (BC) anunciou ontem uma nova estratégia de redução da dívida brasileira atrelada ao câmbio que foi interpretada pelos economistas como uma intervenção para segurar a moeda americana, que desde novembro de 2004 desce ladeira abaixo. A partir de hoje, o BC vai entrar semanalmente no mercado para resgatar contratos cambiais na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) que venceriam mais tarde, oferecendo em troca papéis atrelados à taxa básica Selic. Trocando em miúdos: a autoridade monetária será compradora de dólar, numa ação que pode reduzir o excesso de moeda no mercado e valorizar o real.

Hoje será realizado o primeiro dos leilões semanais para substituir os atuais contratos de swap. A oferta do BC ficará entre US$350 milhões e US$400 milhões.

¿ O BC deve estar reagindo a essa tendência de queda, que não consegue segurar apenas com os leilões de compra de dólares para aumentar as reservas internacionais. É como se fosse uma intervenção com a compra de moeda estrangeira ¿ disse o economista Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria e ex-presidente do BC.

Para Carlos Olinto, gestor de Renda Fixa Internacional da Mellon Global Investments Brasil, a medida pode ser interpretada pelos investidores como intervenção no câmbio.

¿ Os especuladores de plantão devem se aproveitar da novidade para puxar as cotações ¿ acredita.

A medida acelera a redução da dívida pública corrigida pela variação do dólar, iniciada em 2003. Em 2002, a dívida cambial somava R$230,2 bilhões, sendo R$51,7 bilhões em swaps, e fechou 2004 em R$79,7 bilhões (R$38,8 bilhões em swaps).

BC diz que não pretende fixar cotação para a moeda

Segundo o comunicado do BC, o governo deixará de ser devedor em dólar nos contratos de swap na BM&F e passará a credor em moeda estrangeira. A medida diminuiu a oferta de instrumentos de câmbio no mercado, usados por bancos, empresas e grandes investidores para se protegerem das variações do câmbio (o chamado hedge cambial). Isso retira dólares do mercado, assim como as compras diárias de dólar retomadas pelo BC em dezembro. Em apenas um mês, foram adquiridos US$2,7 bilhões.

O objetivo declarado pelo BC é engordar as reservas internacionais. A entrada em campo ocorreu quando o real começava movimento de forte apreciação, como agora. Mas, como existe oferta grande de recursos no mercado, o dólar continuou caindo. No comunicado de ontem, o BC diz que não pretende fixar cotação para a moeda. Ontem, o dólar fechou estável, a R$2,610, a menor cotação desde 5 de junho de 2002.