Título: Líder sunita afirma que governo será ilegal
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Fonte: O Globo, 02/02/2005, O Mundo, p. 30

Dois dias depois de os EUA comemorarem a participação maciça na primeira eleição iraquiana em mais de 50 anos, o principal partido sunita do país ocupado questionou ontem a legalidade da Assembléia Nacional a ser formada, devido à baixa participação dos sunitas no pleito.

¿ Consideramos incompleta a legalidade da Assembléia Nacional, porque as eleições foram incompletas, já que a população sunita de cinco províncias não votou. Todos os curdos e xiitas votaram, mas os sunitas não o fizeram ¿ disse Mohsen Abdelhamid, líder do Partido Islâmico do Iraque (PII), à TV árabe al-Jazeera.

Ele afirmou ainda:

¿ A Comissão Independente Eleitoral anunciou que cerca de oito milhões dos 14 milhões de iraquianos inscritos para a eleição votaram. Onde estavam os outros cinco ou seis milhões?

Abdelhamid afirmou que seu partido continuará atuando na política, opondo-se à ocupação e colaborando ¿com outras forças e organizações para promover a unidade do Iraque¿. Semanas atrás, o PII anunciara que boicotaria as eleições devido à recusa do governo iraquiano a adiar por seis meses a votação, por motivo de segurança. Em áreas sunitas, grupos terroristas ameaçaram matar quem se aproximasse das urnas.

O maior desafio para a democracia no Iraque aparentemente é garantir a participação dos sunitas no governo, devido a seu baixo comparecimento às urnas. Embora representem cerca de 20% da população iraquiana, os sunitas ¿ que eram protegidos por Saddam Hussein ¿ formam uma elite que domina os setores educacional, técnico e cultural do país.

Presidente admite menos estrangeiros no fim do ano

Alijados do poder durante décadas por Saddam, que os perseguia, os xiitas formam a maioria da população, votaram maciçamente e deverão obter a maioria das 275 cadeiras da Assembléia Nacional. Mas não teriam a maioria de dois terços necessária para garantir a nomeação de um primeiro-ministro sem apoio de outros grupos.

A participação maciça na eleição, sem uma intensificação de ataques de rebeldes, alimentou esperanças de que o novo governo iraquiano possa assumir mais responsabilidade pela segurança. Mas o presidente interino, Ghazi al-Yawer, afirmou:

¿ Não faz o menor sentido pedir às tropas que deixem este caos e este vácuo no poder.

Lembrando que em algumas áreas a violência foi reduzida, ele acrescentou:

¿ No fim deste ano, poderemos ver o número de militares estrangeiros diminuindo.