Título: BRASIL TESTARÁ CÉLULA-TRONCO EM 1.200 PESSOAS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 02/02/2005, Ciência e Vida, p. 34

O ministro da Saúde, Humberto Costa, anuncia oficialmente, hoje, no Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, no Rio, o início da maior pesquisa já realizada no mundo envolvendo o uso de células-tronco maduras no tratamento de doenças cardíacas. O Ministério da Saúde irá selecionar 1.200 pacientes cardiopatas e metade deles será submetida à terapia com células-tronco e os outros 600 ao tratamento tradicional. As células a serem utilizadas no estudo serão retiradas de tecidos do próprio paciente, como a medula óssea.

A experiência será feita em pacientes que apresentam quatro tipos de doenças do coração: infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia decorrente do mal de Chagas. Os 1.200 pacientes serão divididos em quatro grupos, com 300 pessoas cada, de acordo com cada tipo de problema.

O paciente cardíaco interessado em participar do estudo deverá procurar, a partir de março, um dos 40 centros envolvidos na pesquisa, como hospitais universitários e faculdades de medicina localizados em dez estados. O Instituto de Cardiologia de Laranjeiras será o responsável pela seleção dos pacientes e por todo o acompanhamento do estudo.

Os pacientes não poderão escolher a qual tratamento serão submetidos, se o tradicional ou o com célula-tronco. Esse método, chamado duplo cego, é o usado nas pesquisas mais avançadas por dar mais credibilidade ao estudo e também para não influenciar o paciente, que pode achar que está melhorando pelo simples fato de receber uma terapia nova.

O tempo de recuperação do paciente submetido à terapia da célula-tronco é curto, apenas 72 horas. Após a cirurgia, ele será observado durante três meses. O objetivo do Ministério da Saúde, comprovada a eficácia da terapia celular, é implementar o tratamento em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Humberto Costa afirmou que o propósito é levar a terapia com célula-tronco para toda população.

¿ Se comprovada sua eficácia, o objetivo é massificar esse tipo de tratamento. Os primeiros estudos já mostraram que não há rejeição a essa terapia, que não causa efeito colateral ¿ disse o ministro.

Ele afirmou que, dependendo do resultado, as cirurgias cardíacas com célula-tronco podem ser adotadas na rede do SUS antes mesmo dos três anos previstos para conclusão da pesquisa. O Brasil é pioneiro nesse tipo de estudo. Porém, o número de pacientes tratados é muito pequeno e mais pesquisas são necessárias para comprovar a eficiência e a segurança.

As quatro doenças do coração escolhidas pelo Ministério da Saúde evoluem para a insuficiência cardíaca grave, mal que atinge cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil.

A estimativa do governo é que, comprovada a eficácia do uso da célula-tronco no tratamento de doenças do coração, cerca de 200 mil vidas poderão ser salvas nos próximos três anos. Outra vantagem dessa terapia é a possibilidade de reduzir os gastos com consultas, internações, cirurgias e transplantes cardíacos no SUS. Em 2003, esses gastos chegaram a R$500 milhões.

A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa aprovou a realização do estudo na semana passada.