Título: Via partidária
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 02/02/2005, Panorama Político, p. 2

Há tempos não se fazia política tão intensamente como nesta semana em Brasília. Tome-se por tal fazer tanto a negociação e a conciliação de interesses como a pressão sobre o adversário. E foi assim que o governo, o PT e os aliados consolidaram a candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh à presidência da Câmara. Já é certo, pelo menos, que hoje ele tem mais votos que os demais.

Com um pouco mais de trabalho ¿ que incluirá o aumento da agressividade contra o dissidente petista Virgílio Guimarães ¿ os governistas já falam até em vitória no primeiro turno da eleição do dia 14.

Central nesta ofensiva foi o acordo com o conjunto de partidos, inclusive os de oposição, no sentido de garantir-lhes a eleição dos nomes que forem indicados pelas bancadas aos outros cargos da Mesa. Seja quem for, a base governista endossará. Esta garantia tornou-se importante para todos os partidos na medida em que as candidaturas avulsas a presidente estimularam o surgimento de múltiplas candidaturas aos demais cargos. Passaram os líderes a correr o risco de sair da disputa com sua autoridade política solapada pela ação de grupos organizados para impor candidaturas não oficiais. Daí surgiu o termo ¿candidaturas legítimas¿ para designar as que obtiveram a chancela partidária. Vale para todos, e muito para o PMDB governista, que precisa fazer valer a indicação de Henrique Eduardo Alves para a primeira-secretaria.

Ao PFL, tal acordo interessou muito, na medida em que surgiram três postulantes à primeira vice-presidência: José Thomás Nonô, Mussa Demes e Robson Tuma. Nonô, que foi líder da minoria nos dois últimos anos, é o mais oposicionista dos três. Mas será bancado pela tropa governista se for o indicado da bancada, como deseja a cúpula pefelista. No primeiro turno da votação para presidente, o PFL ficará com seu candidato Aleluia, mas se houver segundo, votará em Greenhalgh.

Os tucanos também lavraram seus tentos na negociação. As ambivalências do partido, ameaçando rever o apoio a Greenhalgh, foram explicadas como uma satisfação que precisava ser dada ao ex-presidente Fernando Henrique, por ter ele criticado a facilidade com que o PSDB apoiou o nome oficial do PT. Para marchar com o candidato oficial, os tucanos negociaram garantias importantes, como a de que haverá rodízio entre os partidos para a indicação de relatores, inclusive para medidas provisórias, uma velha queixa da oposição. O presidente da Câmara é que indica os relatores. Ontem, o governador Lúcio Alcântara, do Ceará, recebeu Virgílio Guimarães mas negou-lhe apoio. No acordo de reciprocidade em favor dos ¿legítimos¿, seu irmão, deputado Leo Alcântara, deve ser eleito segundo vice-presidente. Devem ser atendidos em outras exigências, também na área do funcionamento parlamentar.

Negociou-se ainda com os ruralistas, e nisso muito atuaram o ministro Roberto Rodrigues e o senador Renan Calheiros.

O deputado João Paulo foi o engenheiro-chefe, valendo-se da relação mais próxima que tem com todos os líderes. Destacaram-se ainda, além do próprio candidato Greenhalgh, os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo e o senador José Sarney. Se tudo der certo, será mais uma vez ensinado que na política, fora dos partidos, há poucas chances de salvação, por piores que eles sejam.