Título: PDT inflado contra Garotinho
Autor: Gerson Camarotti e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/02/2005, O País, p. 3

O Palácio do Planalto deu sinal verde para políticos aliados se filiarem ao PDT, que hoje está na oposição. A estratégia é consolidar o processo de reaproximação iniciado logo após as eleições municipais com os principais prefeitos eleitos pelo PDT. É uma reação do governo à ofensiva do inimigo número um do Planalto, o secretário de Governo do Rio e presidente do PMDB fluminense, Anthony Garotinho, que tenta engrossar as fileiras oposicionistas de seu partido com a filiação de deputados de seu grupo político. Os articuladores governistas temem que o PDT, caso continue na oposição e permaneça um pequeno partido, acabe nas mãos de Garotinho.

Estrategistas do Planalto incentivam a saída de governistas do PPS insatisfeitos com o comportamento oposicionista do presidente do partido, deputado Roberto Freire (PE). Os dirigentes de PT e PDT não confirmam publicamente a aliança formal, mas admitem a reaproximação.

¿ Temos que distender a relação com o PDT e estamos fazendo isso. Já temos alianças importantes em cidades administradas pelo partido. Há uma identificação histórica com o PDT e queremos aprofundar essa relação, mas sempre no campo institucional ¿ disse ontem o presidente do PT, José Genoino.

Ele lembrou que nas eleições municipais o PT fez alianças importantes com o PDT no segundo turno, apoiando os prefeitos das cidade de Campos (RJ), Salvador (BA), Campinas (SP) e Bauru (SP). Segundo Genoino, o PT ajudará na governabilidade dessas cidades.

Lupi: sem alianças

O presidente do PDT, Carlos Lupi, negou que o partido esteja se aliando ao governo federal. Ele disse que está mantida a linha de independência e os princípios do ex-governador e ex-presidente nacional do partido, Leonel Brizola, morto no ano passado. Reconhece, porém, que os novos integrantes do partido são próximos do Planalto. É o caso do governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, que se filiará ao PDT na próxima quinta-feira.

¿ Nossa posição continua a mesma do tempo de Brizola: independente e sem cargos no governo. O discurso do PDT não é de aliança com o Planalto. Mas não posso negar o direito de cada um no partido dizer o que pensa. Até porque os novos filiados são militantes históricos da esquerda ¿ disse Lupi.

As novas filiações ao PDT têm a benção do Planalto. Lessa, que deixou o PSB, assina a ficha de filiação com um deputado e um secretário de governo. O governador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e um grupo de deputados paraibanos também estão negociando sua filiação ao PDT. O pai do governador, o ex-senador Ronaldo Cunha Lima, deve se filiar também na próxima quinta-feira. Todos têm ótimas relações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Convite a Ciro na quinta

O governo espera que a curto prazo a bancada do PDT passe de 16 para 25 deputados. O primeiro passo neste sentido foi dado com a filiação do deputado João Herrmann Neto (SP), que deixou o PPS no fim do ano passado. A recente filiação do deputado Luiz Piauhylino (PE), ex-PTB, seguiu o mesmo critério.

Apesar da declarada oposição do presidente do PDT, integrantes do partido trabalham para reaproximar a sigla do governo federal. O prefeito de Campinas e ex-líder da bancada do PDT na Câmara, Dr. Hélio, disse ontem que deve formalizar na quinta-feira o convite ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, para se filiar ao partido. Ele já tem audiência marcada.

¿ Ciro será muito bem-vindo ao partido. Os prefeitos do PDT devem servir como ponte para que o partido recupere o relacionamento que já teve com o PT no passado. Agora, um bom relacionamento com o Planalto não significa um adesismo ¿ disse Dr. Hélio.

Segundo o prefeito de Campinas, o partido também está convidando o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, que hoje está no PPS. A estratégia do Planalto inclui ainda a saída da senadora Roseana Sarney do PFL. Do PPS, Lula ganhou ontem a simpatia do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça. Contrário à orientação de Roberto Freire, Fogaça disse que o PPS tem um compromisso com a governabilidade do país, pois o presidente foi eleito e conquistou credibilidade interna e no exterior.

Fogaça disse que ficou impressionado com a atitude do presidente de se manter interessado na situação de Porto Alegre, mesmo depois de ele, Fogaça, ter acabado com 16 anos de poder do PT na capital gaúcha.

¿ O presidente tem visão de estadista e não poderia ser outro modo. O partido tomou essa decisão em nível nacional de se desligar do governo, estabeleceu-se essa contradição e ela tem que ser resolvida. O PPS tem um grave compromisso com a governabilidade ¿ disse Fogaça.