Título: BC FAZ PRIMEIRO LEILÃO DE CONTRATOS DE CÂMBIO E DÓLAR AVANÇA 0,22%
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Fonte: O Globo, 03/02/2005, Economia, p. 28

Nem mesmo o Banco Central (BC) parece ter fôlego suficiente para conter a queda livre do dólar, que está em patamares próximos a R$2,61, registrado em junho de 2002. A instituição já comprou cerca de US$5,2 bilhões desde que deu início aos leilões de compra de moeda, no início de dezembro. Ontem, a autoridade monetária deu início a uma nova investida que pode ajudar a segurar a queda do dólar. O Banco Central fez o primeiro leilão de contratos de swap cambial, conforme anunciado na terça-feira à noite.

No jargão do mercado, swap significa troca de taxa. Esses são contratos em dólar que rendem também uma taxa de juros. O governo pagará juros ao investidores e receberá, em troca, a variação cambial. A operação, realizada no chamado mercado futuro, permitirá que o governo compre contratos de dólar que seriam antes vendidos no mercado, puxando para baixo a cotação da moeda no mercado à vista. Com os leilões, o BC reduz a oferta destes contratos, o que pode pressionar as cotações.

Pela manhã, a novidade causou especulação e nervosismo e a moeda chegou a subir quase 1%. Da máxima à mínima do dia (R$2,614), registrada perto do fechamento, a variação do câmbio foi de 0,68%. A operação, no entanto, evitou que o dólar encerrasse os negócios abaixo dos R$2,60 ¿ anteontem, chegou a ser negociado a R$2,599 ¿ e, ajudada por um novo leilão de compra no mercado à vista (a R$2,620), fez com que a moeda encerrasse em alta de 0,22% ontem, cotada a R$2,616.

Primeiro leilão de ¿swap¿ movimenta US$387 milhões

De acordo com Carlos Cintra, gestor de Renda FIxa do Banco Prosper, a expectativa de que os juros se mantenham em patamares elevados fez do primeiro leilão um sucesso. Os investidores compraram os oito mil contratos de câmbio oferecidos pelo BC, numa operação que movimentou US$387 milhões. A demanda total chegou a 68.720 contratos.

Segundo Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do banco ING, a forte demanda deve-se à enxurrada de ofertas de uma mesma instituição:

¿ Ao se pedir taxas diferentes para ver qual o BC aceitará, a demanda acaba inflada.

Para ele, os novos leilões podem ser usados pelo BC como instrumento de intervenção:

¿ Tudo vai depender do volume de contratos ofertados ao mercado. Hoje foram oito mil. Se depois forem 40 mil, ficará clara esta intenção ¿ diz.

Desde o início dos leilões de compra de moeda, o dólar acumula uma desvalorização de cerca de 5%. Apenas em dezembro, foram comprados US$2,6 bilhões, mesma quantia desembolsada em janeiro, segundo relatório sobre a posição diária das reservas. A queda do dólar é reflexo da grande oferta de moeda no mercado.

Em janeiro, o mercado de câmbio gerou um saldo de US$1,340 bilhão, devido em grande parte ao superávit de US$2 bilhões nos contratos de comércio exterior. Houve uma queda em relação ao saldo do mesmo mês de 2004, que atingira US$3,368 bilhões, devido à piora no fluxo de empréstimos e investimentos de estrangeiros no Brasil. O déficit foi de US$221 milhões em janeiro, sem contar as saídas de US$440 milhões pelas chamadas contas CC-5, usadas para movimentação de recursos para o exterior.

Com o excedente em dólares, os bancos venderam moeda e aumentaram suas apostas numa queda do dólar de US$1,368 bilhão para US$2,718 bilhões. O BC absorveu esta sobra do mercado e a oferta dos bancos. Outra opção dos investidores foi a venda de dólares para a aplicação dos recursos em juros ¿ a taxa básica Selic teve cinco aumentos consecutivos, está hoje em 18,25% ao ano e deve continuar em alta.

A expectativa em relação à elevação dos juros nos EUA ¿ ontem o banco central americano subiu a taxa de 2,25% para 2,5% ao ano ¿ desestimulou a aplicação em títulos de países emergentes. O C-Bond recuou 0,29%, cotado a 102,1% do valor de face. A Bolsa de São Paulo subiu 1,89%.