Título: O Desgaste de Marina Silva
Autor: Evandro Ébolui e Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 05/02/2005, O País, p. 03

Ministra sofre pressão de ambientalistas e de governo

BRASÍLIA. Menina-dos-olhos do Ministério formado por Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem se desgastado desde o início do governo perdendo batalhas sobre temas que lhe são caros e que sempre defendeu ao longo de sua trajetória como ambientalista e como política. Com tantas derrotas, fragilizou-se também perante as ONGs. São casos como o dos transgênicos e o da exploração sustentável da Amazônia, em parte devastada pela ação ilegal de madeireiros.

No debate e nas decisões sobre a liberação do plantio e da comercialização dos organismos geneticamente modificados, os transgênicos, a ministra está saindo derrotada. Desde o início do governo, já foram editadas três medidas provisórias, assinadas por Lula, autorizando o plantio e a venda da soja transgênica produzida no Rio Grande do Sul. Marina foi contra todas e ameaçou deixar o governo. O assunto continua em debate no Congresso Nacional.

A ministra está perdendo apoio de quem sempre esteve a seu lado: as organizações não-governamentais ambientalistas. Ela tem recebido críticas dos antigos aliados, que recomendam a ela deixar o governo.

Outro episódio que significa derrota da ministra foi a demissão do ex-presidente da Embrapa Clayton Campanhola, com quem a ministra afinava e, como ela, era defensor da agricultura familiar. A substituição de Campanhola foi mais uma vitória do principal adversário de Marina na Esplanada: Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura.

O governo voltou a atender, ontem, novo pedido dos madeireiros. O porta-voz da reivindicação foi o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB-PA), que se reuniu com Marina. Jatene pediu ao governo que o presidente do Incra, Rolf Hackbart, encaminhasse outro comunicado à cidade de Novo Progresso (PA), centro das manifestações dos madeireiros, garantindo que uma equipe do órgão estaria lá a partir do dia 15 para receber os documentos dos madeireiros sobre a posse das terras. Sem essa garantia, os manifestantes continuariam com o quebra-quebra. Acontece que, pela portaria do Incra, os proprietários é quem devem encaminhar a documentação de atualização e inclusão cadastral de imóvel rural para que sejam analisados na Superintendência Regional do Incra, em Belém.