Título: DÓLAR VOLTA A CAIR E CHEGA A SER NEGOCIADO A R$2,59
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Fonte: O Globo, 04/02/2005, Economia, p. 25

As taxas de juros nas alturas, a ampla liquidez internacional e a forte entrada de recursos externos no Brasil - seja via captação de empresas ou receitas de exportações - garantiram, nos últimos meses, o vigor do real frente ao dólar. Ontem, mais uma vez, apesar de um novo leilão de compra de moeda pelo Banco Central (BC) - a R$2,605 - o dólar cedeu 0,50% e fechou a R$2,603. É a menor cotação desde o dia 4 de junho de 2002 (R$2,597), período anterior à crise eleitoral. Durante o dia, chegou a valer R$2,593.

Levantamento feito pela agência de notícias Bloomberg mostra que, nos últimos seis meses, o real foi a moeda que mais se valorizou frente ao dólar numa cesta das 16 principais moedas do mundo - entre elas o euro, a libra esterlina, o dólar australiano, o iene japonês, o franco suíço e o peso mexicano. Pelo estudo, a moeda brasileira teve um ganho de 1,4% em relação ao dólar no período, de acordo com as cotações em Nova York.

Para o economista-chefe do Santander Banespa, André Loes, as atuais condições do mercado devem continuar a favorecer o real, apesar da relativa estabilidade de algumas moedas frente ao dólar. Em relatório a clientes, Loes diz que "embora o Banco Central continue a intervir no mercado, o real provavelmente continuará fortalecido, em parte devido ao aumento nas taxas de juros".

- Se o BC não aumentar as compras de dólares, o chamado "capital esperto", de investidores que buscam as melhores oportunidades de mercado, continuará entrando pesadamente. No ritmo atual, o dólar não terá dificuldades em ser negociado em torno de R$2,50 - avalia Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da corretora de câmbio NGO.

No que depender de novas captações, a tendência do dólar deve ser mesmo de baixa. Ontem, o Unibanco captou em reais o equivalente a US$125 milhões em títulos que vencem em cinco anos. A demanda foi duas vezes maior que a oferta. Os papéis, segundo a instituição, serão os primeiros de um banco a oferecer variação de um índice de inflação (IGP-M).

CSFB: investidor estrangeiro aposta na queda da moeda

Um outro relatório, publicado ontem pelo Credit Suisse First Boston (CSFB), estima que as reservas aumentaram em US$7 bilhões entre dezembro e janeiro - cerca de 30% de aumento - resultado de compras de dólares no mercado e emissões de títulos da dívida no exterior. Segundo o documento, assinado pelo economista Nilson Teixeira, as apostas dos investidores estrangeiros numa queda do dólar - feitas por meio de contratos futuros na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) - aumentaram mais de cinco vezes do início de 2004 para cá: de US$683 milhões para US$3,6 bilhões.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também tem atraído estrangeiros: o saldo de investimento externo ficou positivo em R$575,4 milhões em janeiro. Esses investidores responderam por 32,8% dos negócios em Bolsa. Ontem, a Bovespa fechou em alta de 1,09%, impulsionada pelas ações de bancos, que lucram com os juros mais altos.