Título: EM BUSCA DE APOIO CONTRA INIMIGOS
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Fonte: O Globo, 04/02/2005, O Mundo, p. 28

Enquanto as tropas americanas continuam procurando instaurar a paz e a democracia no Iraque, o presidente George W. Bush inicia hoje uma tentativa de reconciliação com países europeus, tradicionais aliados dos Estados Unidos, em busca de apoio para lidar com outros três inimigos: Irã, Síria e Coréia do Norte.

Desta vez ele promete enfatizar a importância das alianças e da diplomacia, deixando o unilateralismo em segundo plano (mas ainda sem abrir mão dele). Como deixou claro no Discurso do Estado da União - em que apresentou os planos de seu segundo mandato, quarta-feira à noite, no Congresso - o objetivo é "permanecer na ofensiva contra os terroristas até que essa luta seja vencida".

Este é o recado que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, levará à região numa viagem que começa hoje, em Londres, e continua em Itália, Polônia, Alemanha, França, Bélgica, Vaticano, Turquia, Israel e Cisjordânia.

Paris, a capital do país que mais criticou a invasão do Iraque, foi escolhida simbolicamente como ponto central. Ali, Condoleezza fará o principal discurso de sua maratona, procurando mostrar que a partir de agora os EUA dariam mais peso às negociações do que às armas:

- Acho que o discurso em Paris vai mostrar que estamos buscando um momento de oportunidade para essa aliança - disse ela, pouco antes de embarcar.

Irã e Síria reagem furiosamente

O clima é de cautela na Europa. A expectativa é pequena, como deixou claro o chefe da Comissão Européia em Washington, John Bruton. Ele citou especificamente o caso do Irã como um exemplo de que as intenções de Bush ainda são suspeitas:

- Os EUA não estão tão engajados nas negociações com o Irã como esperávamos - disse, acrescentando que em vez de apoiar decisivamente a via diplomática escolhida pela Europa, Bush continua preferindo a das sanções econômicas e a das ameaças para lidar com o Irã.

O presidente foi agressivo em relação àquele país e à Síria em seu discurso. Disse que o Irã é o principal patrocinador do terrorismo e que a Síria permite que terroristas usem o seu território e parte do Líbano como refúgio e QG de operações no Oriente Médio. Os dois países reagiram ontem furiosamente O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou:

- Por apoiar os oprimidos e enfrentar os opressores, estamos sendo atacados pelos tiranos globais.

Irado, ele afirmou que o objetivo de Bush seria destruir o Irã.

Perguntado ontem, na entrevista coletiva diária do Departamento de Estado, se as acusações de Bush ao Irã são um sinal de que os EUA estão implementando um plano para a mudança do regime naquele país, o porta-voz Adam Ereli disse que o objetivo é fazer pressões internas:

- Temos deixado bem claro que não temos uma política de mudança de regime no Irã - afirmou. - Apoiamos as aspirações do povo iraniano pela liberdade, pela livre expressão de opiniões, por seus direitos básicos, incluindo os de reunião. E é um fato infeliz o governo iraniano agir contra essas liberdades, prendendo jornalistas e evitando opiniões contrárias. Continuaremos lutando contra isso.

Na Síria, o porta-voz do Ministério do Exterior, Bushra Kanafani, afirmou que Bush se equivocou, pois em vez de dar cobertura a terroristas, como ele disse, seu país está fazendo o possível para evitar ser usado por eles como porta de entrada do Iraque.

- Chegamos até a propor um acordo de segurança a Bagdá, mas até agora sequer nos responderam - disse ele.

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"Acho que o discurso em Paris vai mostrar que estamos buscando um momento de oportunidade para essa aliança"

CONDOLEEZZA RICE

Secretária de Estado dos EUA

"Os Estados Unidos não estão tão engajados nas negociações com o Irã como esperávamos"