Título: PREMIER DA GEÓRGIA MORRE INTOXICADO COM GÁS
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Fonte: O Globo, 04/02/2005, O Mundo, p. 30

O primeiro-ministro da ex-república soviética da Geórgia, Zurab Zhvania, foi encontrado morto ontem, intoxicado com gás na casa de um amigo (que também morreu), em Tbilisi, num aparente acidente. A sua morte priva o presidente Mikhail Saakashvili de um dos principais artífices das reformas econômicas que estão sendo implantadas no país.

Saakashvili anunciou que está assumindo as funções de Zhvania, uma das poucas figuras de peso de seu gabinete reformista. Embora não tenha informado por quanto tempo acumulará as funções, a Constituição do país prevê que o presidente indique em até sete dias um novo premier, cujo nome deve ser submetido ao Parlamento.

Apesar de as autoridades apresentarem o caso como um acidente, o presidente da maioria no Parlamento, Alexandre Chalamberidze, pôs em dúvida as primeiras conclusões e relacionou as mortes a um atentado com carro-bomba realizado dois dias antes a oeste da capital. O ministro para Conflitos, Gueorgui Jaindrava, ressaltou que era "muito cedo" para tirar conclusões.

Especialistas do FBI, a polícia federal americana, participarão das investigações, informou o procurador-geral, Zurab Adeishvili.

Aquecedor teria sido mal instalado

Zhvania, de 41 anos, foi encontrado morto no apartamento de Raul Yusupov, de 25 anos, vice-governador da região de Kvemo Kartli, às 4h30m. Segundo o ministro do Interior, Vano Merabishvili, os guarda-costas ficaram preocupados porque o premier não atendia o telefone, derrubaram a porta e encontraram os corpos. Zhvania estava numa poltrona na sala, perto do aquecedor, e Yusupov estava caído na cozinha.

- Eles morreram devido à inalação de gás de uso doméstico - disse o ministro. - Foi um acidente trágico.

Mais tarde, David Morchiladze, diretor-geral da Tifgaz, a principal empresa de gás de Tbilisi, informou que o sistema de ventilação do aquecedor havia sido mal instalado, provocando o acúmulo de monóxido de carbono - um gás inodoro, incolor e altamente tóxico - no apartamento. Segundo o chefe do Serviço Forense, Levan Chachua, não foram constatados sinais de violência.

Intoxicações causadas por vazamentos de gás são comuns na Geórgia no inverno, quando a população usa aquecedores e o fornecimento de energia é inconstante.

Nos últimos anos, alguns jornais publicaram rumores sobre supostas preferências sexuais de Zhvania. O primeiro-ministro deixa mulher e três filhos.

- Não creio que alguém quisesse matá-lo. Ninguém desejava a sua morte - disse o chefe-adjunto do gabinete da Presidência, Guram Absandze.

Voz moderada sobre o explosivo presidente

Zhvania era o mais experiente do trio de líderes que comandou a Revolução da Rosa, em que protestos pacíficos nas ruas acabaram por derrubar o veterano presidente Eduard Shevardnadze, em novembro de 2003, levando Saakashvili, pró-Ocidente, ao poder. A própria decisão de Saakashvili de assumir as funções de premier parece um indício da escassez de candidatos ao cargo.

- Estou assumindo a liderança do Poder Executivo. Ordeno ao governo que retorne ao trabalho - disse em frente à Catedral da Santíssima Trindade, onde acontecerá o velório, no domingo.

Mais cedo, com os olhos vermelhos, Saakashvili recebeu os ministros numa reunião de emergência.

- (A morte de Zhvania) é um grande golpe para nosso país e, pessoalmente, para mim, como presidente e pessoa - disse com a voz embargada. - Perdi um grande amigo, meu mais leal conselheiro, meu maior aliado.

Apesar da declaração, circulavam rumores de uma certa rivalidade entre os dois, mas ela nunca ficou evidente em público. Zhvania era visto como uma influência moderada sobre o presidente, um advogado de 37 anos, educado nos EUA e dado a explosões emocionais.