Título: Pecuaristas reclamam que acordo com governo só beneficiou madeireiros
Autor:
Fonte: O Globo, 05/02/2005, O País, p. 4

Só no final da tarde de ontem, após uma reunião com o prefeito de Novo Progresso, Tony Gonçalves, é que os madeireiros resolveram liberar o tráfego na BR-163 (Santarém-Cuiabá), que estava interditado há quase dez dias, provocando longo engarrafamento. Os manifestantes começaram a dar sinais de racha depois da reunião realizada em Brasília.

Os pecuaristas e grandes agricultores do Pará, que também estavam ao lado dos madeireiros na manifestação, afirmam que não tiveram suas reivindicações atendidas pelo governo federal e que apenas os madeireiros foram beneficiados. Por isso, o Sindicato dos Agricultores foi o último a concordar com a liberação da BR-163, a Santarém-Cuiabá.

Agricultores e pecuaristas querem cancelar portaria

Uma reunião com a Ouvidoria Agrária do governo federal, no próximo dia 15, tentará evitar que novas manifestações ocorram no município, já que agricultores e pecuaristas querem que seja cancelada a portaria 010 do governo federal, que estabelecia o dia 31 de janeiro como prazo final para recadastramento de terras com extensão superior a cem hectares. O tempo seria pouco para recadastrar mais de 500 propriedades, segundo a Associação Comercial de Novo Progresso.

Liberada a estrada, o governo federal deve ter uma nova dor de cabeça em relação à exploração madeireira no Pará. Apoiados por políticos locais, madeireiros e fazendeiros da região conhecida como Terra do Meio, em Porto do Moz, pretendem bloquear judicialmente a implantação da reserva extrativista Verde para Sempre, criada por decreto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 8 de novembro de 2004.

Liderados pelo prefeito de Porto de Moz, Edílson Cardoso, e pela Associação dos Municípios da Transamazônica Santarém (Amut), prefeitos de mais seis municípios, madeireiros e fazendeiros divulgaram nota de repúdio à criação da reserva.

- É uma medida completamente equivocada. Não fomos ouvidos e o resultado é que os municípios atingidos pela reserva irão ficar com 80% de sua economia engessada - afirma o presidente da Amut, Averaldo Pereira.

Ibama e sindicato divergem sobre acordo

Líder dos madeireiros ameaça dar paulada em superintendente do órgão

BELÉM. O acordo costurado em Brasília entre madeireiros e representantes do governo foi interpretado de maneira oposta pelo superintendente do Ibama no Pará, Marcílio Monteiro e pelo presidente do Sindicato dos Madeireiros do Sudoeste do Pará, Luís Carlos Tremonte, um dos principais líderes da categoria. Monteiro avaliou que o governo federal não recuou em relação ao que vinha defendendo anteriormente e manteve um discurso de rigor contra a exploração de madeiras no Pará.

Foi o suficiente para Tremonte, que na véspera saíra comemorando o resultado da reunião em Brasília, ameaçar novamente:

- Esse é um discurso (do superintendente do Ibama) furado. E se o Marcílio continuar com esse papo furado vai tomar paulada na cabeça. O governo percebeu que estava errado e voltou atrás - disse Tremonte.

Monteiro, porém, relacionou uma série de medidas que o Ibama pretende tomar para preservar as madeiras do Pará:

- Não há, por exemplo, a mínima hipótese de serem aprovados novos planos de manejo em áreas públicas. Apenas os que já estavam em operação entre 2003 e 2004 poderão ser realizados pela última vez em 2005, desde que passem por uma vistoria para verificar se o manejo florestal está sendo bem feito e sem possibilidade de provocar conflito social. Com esse crivo, vamos apertar o cerco à ilegalidade que é grande na região. Não vejo recuo do governo nesse sentido, e sim um avanço.