Título: CONDOLEEZZA MODERA O DISCURSO SOBRE IRÃ
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Fonte: O Globo, 05/02/2005, O Mundo, p. 26

Em sua primeira viagem ao exterior como chefe da diplomacia americana, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, procurou ontem afastar temores na Europa de que os EUA estejam se preparando para atacar o Irã, cujo regime tem sido duramente criticado pelo presidente George W. Bush.

- A questão simplesmente não está na agenda neste momento. Temos muitos meios diplomáticos à nossa disposição e temos a intenção de utilizá-los plenamente - disse ela em Londres, quando lhe perguntaram se seu país estava considerando uma ação militar para forçar o governo de Teerã a abrir seu programa nuclear à comunidade internacional.

Condoleezza não deixou, entretanto, de acusar o Irã de isolamento na questão nuclear, de abrigar terroristas e de estar num "abismo de direitos humanos" - embora os iranianos elejam seus presidentes, clérigos muçulmanos controlam as principais instituições do país.

- Creio que ninguém acha que os mulás não eleitos que controlam o regime são algo bom para o povo iraniano ou para a região - afirmou. - Acho que nossos aliados europeus concordam que o comportamento do regime em direitos humanos para sua população é algo a ser reprovado.

Referindo-se às recentes eleições no Afeganistão e no Iraque, ela declarou ainda:

- O Irã não está imune às mudanças que estão acontecendo na região.

Depois de se reunir com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e seu chanceler, Jack Straw, Condoleezza viajou para Berlim. Ao fim de um entrevista coletiva junto ao chanceler federal Gerhard Schroeder, ela voltou ao assunto, afirmando esperar resultados nos empenhos diplomáticos de Alemanha, França e Reino Unido para que o Irã não fabrique armas nucleares:

- A conduta do governo iraniano preocupa não só os EUA, mas toda a comunidade internacional, que está se unificando. Confio realmente em que os iranianos aproveitem as oportunidades que se apresentam a eles.

O Irã nega ter a ambição de adquirir armas atômicas, garantindo que seu programa tem o objetivo pacífico de produzir energia. Mas tem procurado evitar a interferência internacional em seus planos nucleares, como já fez Saddam Hussein.

Analistas disseram que as declarações da secretária não deverão reduzir a tensão internacional em relação a Teerã. E lembraram que na semana passada Bush disse que o Irã "patrocina o terror". O presidente também já considerou o país parte do "eixo do mal", juntamente com o Iraque - na época de Saddam - e a Coréia do Norte. Recentemente, a imprensa americana disse que forças americanas vêm realizando incursões secretas no Irã para identificar possíveis alvos de ataques.

Empenho para a paz no Oriente Médio

Condoleezza espera aproveitar sua viagem para impulsionar a paz no Oriente Médio. Visitará também Israel e Cisjordânia, e ontem reiterou a disposição dos EUA para treinar forças palestinas. Ela ainda elogiou a mudança de postura da Autoridade Nacional Palestina sob a presidência de Mahmoud Abbas - sucessor do falecido Yasser Arafat, que Bush criticava - com quem deverá se encontrar segunda-feira.

Apesar do empenho manifestado quarta-feira por Bush, no Discurso do Estado da União, de fortalecer as relações dos EUA com a Europa, Condoleezza admitiu que seu país não concorda com a proposta da União Européia - apoiada pelo Reino Unido - de suspender o embargo de venda de armas à China, imposto há 15 anos, depois do massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989.

A AGENDA DA SECRETÁRIA

HOJE: Reuniões com líderes de Alemanha, Polônia e Turquia.

AMANHÃ: Encontros com autoridades do governo turco e do Ministério do Exterior russo, em Ancara. Viagem para Israel.

SEGUNDA-FEIRA: Encontros com o premier de Israel, Ariel Sharon, e o líder palestino, Mahmoud Abbas.

TERÇA: Encontro com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, em Roma, e discurso em Paris.

QUARTA: Reuniões com ministros franceses e, em Bruxelas e Luxemburgo, com autoridades da Otan e da União Européia.

"Temos muitosmeios diplomáticos à nossa disposiçãoe temos a intenção de utilizá-los plenamente"

"Ninguém pensa que os mulás não eleitos que controlam o regime (de Teerã) são algo bom para o povo iraniano"