Título: Outro desfile
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 10/02/2005, Panorama Político, p. 2

Agora que o carnaval passou, a agenda política retoma um curso mais linear, esbarrando aqui e ali em movimentos e manobras orientados pela sucessão presidencial. Por mais que o PT e o governo digam que isso é assunto para 2006, o ano que antecede uma eleição é sempre um ano altamente eleitoral. Não será diferente em 2005.

Para quem está na oposição, é importante acordar cedo, escolher o quanto antes o candidato, planejar a campanha e, mais que tudo, explorar todos os flancos vulneráveis do governo e dos partidos que estão no poder. Assim fez sempre o PT quando era oposição. Assim estão fazendo, cada um a seu modo, o PSDB, o PFL e Garotinho, do PMDB.

Para quem está no governo, e nele pretende continuar, o conveniente é retardar a corrida sucessória. O tempo, os recursos e as energias devem ser direcionados para a produção de resultados, criando as condições para que o eleitor seja convencido, no momento eleitoral, de que vale a pena reeleger o presidente e conservar o mesmo governo por mais quatro anos. Fernando Henrique alegou que precisava dar continuidade às suas reformas. Lula dirá que precisa de mais tempo para impulsionar o crescimento econômico e realizar as mudanças prometidas. Não é à toa que vem falando tanto da situação em que recebeu o país, recorrendo a imagens como a do vendaval. Ensaia o discurso de campanha, em que deve alegar que os dois primeiro anos de seu mandato foram torrados na tarefa de arrumar a casa.

Mas na ação, tanto Lula quanto o PT não praticam o que dizem sobre a antecipação do debate sucessório. Lula, porque não resiste à tentação de fustigar Fernando Henrique e o PSDB. Cada vez que maldiz a herança, os tucanos reagem e levantam o bico.

Já o PT se adianta por outra razão. Ontem mesmo seu presidente, José Genoino, voltou a esconjurar a precipitação: ¿Não vamos antecipar o debate sucessório de 2006. Isso não interessa nem ao PT nem ao governo¿. Mas afirmou, ao mesmo tempo, que a questão dos estados ¿ numa referência à escolha de candidatos e à politica de alianças para a eleição de governadores ¿ começará a ser discutida no processo de eleições internas e diretas do PT, que renovará sua direção em setembro.

Isso deve significar que os dirigentes estaduais serão eleitos em sintonia com a política de alianças do partido, evitando-se a repetição de algumas situações ocorridas na eleição municipal, quando o partido acabou lançando candidatos próprios apesar da promessa dos dirigentes de apoiar nomes aliados. Caso notável, Fortaleza.

Mas se as alianças estaduais já serão discutidas este ano ¿ e é inevitável que sejam, pois este é um processo delicado e envolve as 27 unidades da Federação ¿ já estará também o PT trazendo 2006 para 2005.

Genoino tem dito que, sendo Lula candidato à reeleição, terá o PT de moderar seu apetite, deixando de lançar candidatos a governador em muitos estados. Eis aí um grande desafio, propor dieta quando o sujeito acha que está num banquete.

Quanto aos outros partidos, agora devem pisar mesmo no acelerador. O PSDB está testando Geraldo Alckmin como candidato. E hoje mesmo o PFL põe Cesar Maia provisoriamente na presidência do partido, propiciando-lhe maior visibilidade como pré-candidato.