Título: MST: `Todo mundo participou da ação¿
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 10/02/2005, O País, p. 5
Uma ação de defesa, da qual todo mundo participou. Assim o coordenador do assentamento Bananeiras, Severino Virtuoso da Silva, definiu ontem o episódio envolvendo militantes do MST e policiais militares no último sábado, no qual um soldado PM foi assassinado a tiros e um sargento foi imobilizado, amarrado e mantido em cárcere privado por mais de cinco horas. A confusão foi na agrovila do assentamento, no município de Quipapá, a 188 quilômetros do Recife.
Os lavradores assentados afirmaram que os policiais chegaram ao local atirando, quando um dos moradores, José Laércio Bispo foi ferido de raspão por uma bala na testa, que, segundo o MST, teria sido disparada por um dos policiais. Eles disseram que confundiram os PMs com pistoleiros da região, porque os três estavam à paisana, de bermudas, num Fiat branco sem identificação.
¿ Eles já chegaram atirando. Bispo caiu no chão ensangüentado e a gente pensou que ele estava morto. Todo mundo cercou o carro, houve um tiroteio no meio do terreiro e um deles caiu morto. Da ação de defesa todo mundo participou ¿ disse Virtuoso.
¿Para nós, Ricardo ainda pertence ao assentamento¿
Ele confirmou que o grupo foi liderado por José Ricardo Rodrigues, ex-coordenador do assentamento e ex-secretário do MST, desligado desde novembro por mau comportamento, de acordo com Jaime Amorim, coordenador regional do MST:
¿ Para nós, Ricardo ainda pertence ao assentamento. Ele pediu ajuda e a gente se defendeu de três pessoas estranhas.
Segundo o Comandante do 10 Batalhão da PM em Palmares, major Silas Charamba, os três policiais estavam em serviço de inteligência, à paisana. No conflito, o soldado Luís Pereira da Silva morreu com três tiros, o sargento Cícero Jacinto foi mantido em cárcere privado ¿ quando teria sido torturado ¿ e o terceiro PM, Adilson Alves Aroeira, conseguiu fugir e avisar o comando. A PM não permitiu que o GLOBO conversasse com o sargento, alegando que ele está traumatizado.
Segundo laudo do Hospital Regional de Palmares, o sargento teve ¿ferimentos no punho e no supercílio, com edemas, e apresenta traumatismo na região torácica, provocado por agressão física¿.
Amorim diz ter indicado12 nomes à polícia
Jaime Amorim atribuiu o assassinato do soldado aos 12 amigos de Ricardo, que estariam em visita ao assentamento. Mas confirmou que, na confusão, todos os assentados se juntaram para se defender das pessoas que eles não conheciam.
¿ Os trabalhadores se juntaram para se defender da ação que julgavam ser de pistoleiros. O assassinato foi praticado por homens do grupo de Ricardo. Já indicamos 12 nomes à polícia ¿ disse Amorim.
Ontem pela manhã, funcionários do Incra estiveram no Bananeiras e ouviram a versão dos trabalhadores. O Incra garantiu que todos os envolvidos nos crimes serão excluídos do assentamento.