Título: Pressão interna sobre Sharon e Abbas
Autor:
Fonte: O Globo, 10/02/2005, O Mundo, p. 28
Um dia após o acordo de cessar-fogo no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, Israel anunciou ontem que vai permitir a entrada no país de mais de dois mil trabalhadores palestinos e levantar alguns bloqueios na Cisjordânia. Mas apesar da esperança que cerca os últimos acontecimentos, tanto o premier israelense, Ariel Sharon, quanto o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, precisam ainda enfrentar a oposição entre seus povos.
Numa atitude classificada de ¿bomba política¿ pela rádio militar israelense, o ministro das Relações Exteriores, Silvan Shalom, anunciou a intenção de liderar uma ampla campanha por um referendo sobre a retirada israelense da Faixa de Gaza, o que, para ele, ¿reduziria as divisões no país¿. Treze dos 40 legisladores do Likud, o partido de Sharon, opõem-se ao plano, e, para a rádio, Sharon enfrenta agora ¿uma intifada em seu próprio campo¿.
¿ Tenho a intenção de realizar uma iniciativa pública, parlamentar e política a favor de um referendo ¿ disse Shalom.
O premier, no entanto, foi categórico ontem.
¿ Não haverá referendo. Quem quer que pense que alguém pode governar um país sob ameaça está errado.
Encontro na fazenda de Sharon em uma semana
Abbas, por sua vez, partia ontem para a Faixa de Gaza, segundo fontes, para um encontro com líderes do Hamas, que na véspera declararam que o cessar-fogo expressava apenas a posição da ANP.
O presidente da ANP anunciou ontem que Israel vai remover os bloqueios de estradas como parte de sua retirada de cinco cidades da Cisjordânia. Nas próximas três semanas, Israel deve devolver aos palestinos o controle da segurança nas cidades de Jericó, Tulkarem, Qalqiliya, Belém e Ramallah. O cronograma foi acertado no Egito.
¿ Os israelenses vão se retirar (destas) cidades e de áreas adjacentes e vão deixar os postos de controle, sendo substituídos por forças palestinas ¿ anunciou Abbas.
O presidente da ANP e o premier israelense devem se encontrar novamente em uma semana, na fazenda de Sharon, em Negev. Segundo Raanan Gissin, conselheiro de Sharon, haverá ainda uma série de encontros.
Numa medida que deve melhorar a vida dos palestinos, cuja economia foi arrasada nos quatro anos de intifada, o Exército israelense informou que vão ser concedidas permissões de entrada no país para 1.500 trabalhadores da Faixa de Gaza e 2.000 da Cisjordânia. Cerca de 25 mil palestinos trabalhavam em Israel antes do início da intifada, em 2000. Além disso, 500 terão permissão para trabalhar na zona industrial na fronteira de Gaza.