Título: POUCAS VAGAS EM MUITO ESPAÇO
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Fonte: O Globo, 08/02/2005, O País, p. 3

Fosse pelo tamanho do prédio, não faltariam vagas no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Mas nos 110 mil metros quadrados do edifício inaugurado em 1978, muitos doentes nem ultrapassam os corredores do setor de triagem. Das cerca de 100 pessoas que todos os dias esperam por assistência, mais da metade volta para casa sem atendimento e sem consulta marcada. Das 41 especialidades médicas do Hospital do Fundão, 20 não têm vagas.

Tratamento foi interrompido por quatro meses

Arnaldo José Rodrigues, de 58 anos, driblou a triagem no terceiro dia de tentativas. Não tinha o encaminhamento médico necessário, mas o papel foi fornecido por um candidato que fazia campanha política em Tubiacanga, Ilha do Governador, onde mora com a mulher. Ele chegou ao Fundão em 1994 com artrose. Depois da reumatologia, já passou pela pneumologia, oftalmologia e ortopedia.

¿ O difícil é conseguir entrar, mas depois que entra a gente tem atendimento ¿ diz Arnaldo, que recebe R$282 de aposentadoria por mês e gasta R$100 com remédios. ¿ É duro conseguir remédio aqui, às vezes não tem.

Além da falta de medicamentos, Arnaldo interrompeu um tratamento por quatro meses porque o tomógrafo computadorizado havia quebrado. O setor de radiodiagnóstico é chefiado pelo médico e professor Hilton Koch, chefe do departamento de radiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ. Os aparelhos de raios X, os de ultra-sonografia, os telecomandados para o sistema digestivo, o mamógrafo, os tomógrafos e o angiógrafo digital são de última geração, caros.

¿ Mas quebram e ficam meses sem conserto ou reposição ¿ diz Koch.

O andar foi pintado recentemente com dinheiro arrecadado com a venda de papel, um ¿bico¿ realizado pelo departamento de um hospital voltado para o ensino e pesquisa. Mesmo assim, o resultado do esforço já está prejudicado. Na sala onde ficam alguns desses aparelhos caros, sinais de infiltração estão aparentes.

Problema pequeno comparado à quebra da máquina que examina o aparelho digestivo. Só para saber o que aconteceu, o fabricante cobrou R$900. Como o hospital já tinha uma dívida de R$45 mil com a empresa, teve que pagar à vista pela visita técnica, o que foi feito com o cheque de um dos médicos. Já para consertar o aparelho, os médicos não terão como arcar com R$100 mil. O mamógrafo está com a correia solta e deixa de realizar pelo menos quatro exames por dia. Faria 80, se houvesse filme de revelação disponível.

O diretor do Hospital do Fundão, Amâncio Paulino de Carvalho, espera melhoras com a assinatura do novo contrato. Em cifras, são R$6,8 milhões a mais por ano. Em atendimento, espera-se um aumento de 20% na produção do hospital, que hoje faz 1.200 consultas, 1.500 exames complementares e 50 cirurgias por dia.