Título: POLICIAL MILITAR É MORTO EM ASSENTAMENTO DO MST
Autor:
Fonte: O Globo, 08/02/2005, O País, p. 5
A Polícia Militar de Pernambuco acusa militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) de terem executado um soldado e mantido outro sob tortura e em cárcere privado, durante uma operação da PM no assentamento Bananeira, que fica em Quipapá, na região agreste de Pernambuco, para prender os irmãos José Ricardo e Sérgio Rodrigues Oliveira, acusados de roubo de carga. Os dois continuam foragidos.
O crime ocorreu na noite de sábado. O PM assassinado, o soldado Luís Pereira da Silva, foi sepultado na manhã de ontem. O sargento Cícero Jacinto da Silva passou por exames de corpo de delito na cidade de Caruaru (a 130 quilômetros de Recife). Além dos irmãos, seis acusados de participar do crime estão foragidos, mas segundo o MST, embora estivessem no assentamento no momento do assassinato, não pertencem ao movimento.
A PM, no entanto, assegura que os responsáveis pela execução e prisão dos policiais são do MST. O comandante do batalhão da cidade de Palmares, major Silas Charamba, informou que amanhã a polícia vai instaurar inquérito para investigar o crime. A PM já instaurou sindicância para apurar as circunstâncias do assassinato e prisão dos policiais militares.
Amorim: irmãos suspeitos roubaram motos do MST
O coordenador regional do MST, Jaime Amorim, confirmou a ocorrência, mas disse que os dois homens procurados pela polícia, os irmãos José Ricardo e Sérgio Rodrigues Oliveira, já haviam sido expulsos do MST por mau comportamento.
- Sérgio chegou a ser um dos nossos líderes, e ambos presidiam associações de assentados, mas descobrimos que eles estavam criando uma máfia dentro do MST, e por esse motivo nós os expulsamos - disse Amorim.
O coordenador do MST afirmou que em dezembro prestara queixa contra os irmãos, porque eles haviam roubado seis motos do movimento e agredido uma pessoa em um dos assentamentos.
- A polícia sabe muito bem que isso não tem nada a ver com a filosofia dos assentados. Apenas ocorreu em um assentamento, mas não teve ligação com a história do engenho Bananeiras nem com a luta pela reforma agrária - disse Amorim.
O major Charamba disse que a PM está empenhada no esclarecimento do caso:
- Por enquanto, a verdade é que pessoas nocivas do movimento trucidaram a vida de um dos nossos e mantiveram um outro sob tortura, amarrado e em cárcere privado. O sargento está com o corpo cheio de escoriações. O que a gente quer dos líderes do movimento é que identifiquem quem são os culpados e os apresentem às autoridades.
O líder dos sem-terra prometeu que os culpados serão denunciados às autoridades e admitiu que não é incomum a infiltração de marginais e oportunistas no movimento.
- Normalmente nós nos defrontamos com esse tipo de gente, mas comprovada a má conduta, a pessoa é expulsa - disse Amorim, que lamentou que os dois irmãos tivessem se refugiado no assentamento.
De acordo com a PM, os policiais foram até o assentamento na tentativa de prender os acusados, mas teriam sido rendidos e suas armas tomadas pelos lavradores. Os sem -terra dizem, no entanto, que os policiais chegaram atirando e que eles agiram em defesa própria.
Soldado foi espancado e morto com três tiros
A PM informou que o soldado Luís foi executado com três tiros, depois de espancado. E o sargento foi amarrado e espancado dentro de uma casa. Segundo a PM, os sem-terra também teriam destruído um carro da polícia. O terceiro policial militar que participava da operação teria fugido a pé pelo matagal. No meio da confusão, os irmãos Ricardo e Sérgio fugiram em uma Saveiro placa MUT 5781.