Título: A REAÇÃO DAS PEQUENAS
Autor:
Fonte: O Globo, 08/02/2005, Economia, p. 13

Vendas maiores, mais empregados e a inadimplência mais baixa desde julho de 2003. Este cenário não ilustra a situação dos grandes magazines ou de rede de hipermercados, mas sim o vivido pelas micro e pequenas empresas de comércio e serviços do Estado do Rio em 2004. Segundo pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e o Sebrae, com 1.839 micro e pequenos comerciantes, o faturamento real cresceu 4,93% em dezembro, frente ao mesmo mês de 2003, desempenho pouco inferior ao verificado pelo comércio como um todo no estado:

- As vendas gerais em dezembro cresceram 5,83%. As micro ainda estão com desempenho inferior, mas a recuperação também veio com uma defasagem. Enquanto nas grandes o crescimento real das vendas começou com mais fôlego em julho, nas pequenas, isso começou em setembro - afirmou João Carlos Gomes, coordenador do Núcleo Econômico da Fecomércio-RJ.

Segundo o economista da federação, a reação do mercado interno, impulsionada pelo aumento do emprego e da renda, ajudou a melhorar o desempenho econômico das pequenas empresas. E as perspectivas são boas para este ano mesmo com a alta da taxa básica de juros, a Selic, que subiu de 16,25% ao ano em setembro para 18,25% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em janeiro.

Número de vagas formais cresce 22%

A melhoria nas vendas ajudou a formar capital de giro, diz Gomes, o que libertou parcialmente os pequenos empresários de juros bancários:

- Há um reflexo, sem dúvida da alta de juros. Os microempresários não têm acesso a empréstimos mais baratos, como os do BNDES. E é uma ameaça que paira sobre o setor. Mas acreditamos que no segundo semestre o Banco Central comece a reduzir os juros. Pelas nossas contas, a inflação deve desabar.

Na pesquisa, 48,95% dos entrevistados disseram ter aumentado o faturamento em dezembro, parcela bem superior à de novembro (35,35%) e pouco acima da verificada em dezembro de 2003 (47,37%). É o melhor resultado desde que a pesquisa começou a ser feita em julho de 2003.

André Zanatta Braga é um desses pequenos empresários a comemorar a melhoria no faturamento. Dono da loja de materiais de construção Casa Brasil, ele diz que a alta nas vendas atingiu 10% em 2004 e, por isso, contratou mais três funcionários, aumentando o quadro para 15 pessoas:

- Foi o melhor ano desde que abrimos a loja em 1999. Tanto o movimento das grandes empresas, como o consumo formiga para pequenas reformas aumentaram bastante. A loja fica em Botafogo (Zona Sul do Rio), onde os prédios são muito antigos, sempre necessitando de reformas.

Outro sinal de que a recuperação veio para ficar na opinião do comerciante foi o resultado este ano. Desde que abriu a loja, é a primeira vez que o movimento de janeiro supera o de dezembro. Esse sentimento de Braga aparece nos números das pesquisas. O faturamento nesse setor ficou maior para 52,51% dos entrevistados, uma alta significativa frente a dezembro de 2003, quando 40,94% registraram alta nas vendas.

- Olhando esses números, acreditamos que 2005 será o ano da construção civil - afirmou Gomes.

O volume de contratações também subiu. Pelos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, a abertura de vagas com carteira assinada aumentou 22% de 2003 para 2004. E, o melhor, caiu o número de vagas com rendimentos inferiores a um salário-mínimo:

- O número total de vagas cresceu, enquanto as de salário mais baixo caíram. A concentração foi em até 1,5 salário. Isso mostra um movimento de melhoria da qualidade do emprego, inclusive nas pequenas empresas - diz Gomes.

Segundo o levantamento da Fecomércio-RJ, as vagas que pagam salários mais elevados continuaram a apresentar quedas, porém cerca de 50% menores em relação a 2003.

Inadimplência cai de 3,49% para 1%

No conjunto de indicadores que melhoraram em 2004, a inadimplência aparece com destaque. A parcela de cheques devolvidos caiu de 3,49% em julho de 2003, para 1% agora, no menor patamar desde então. O uso de cartão de crédito nas vendas ajudou a melhorar o índice de inadimplência. A participação dessa forma de pagamento subiu de 31,46% em dezembro de 2003 para 33,04% em 2004.

- Cada dia mais, os cartões de crédito e débito tomam o lugar dos cheques. Isso ajuda a diminuir a inadimplência - afirma André Zanatta, da Casa Brasil.

O formação dos estoques das pequenas empresas também aumentou. Segundo a pesquisa com os empresários, o volume de encomendas aos fornecedores cresceu para 52,22% dos entrevistados. Em dezembro, essa parcela fora de 46,33%.