Título: MERCENÁRIOS: TREINO PLANEJADO EM ÁREA MILITAR
Autor:
Fonte: O Globo, 08/02/2005, O Mundo, p. 17

Os alemães Frank Guenter Salewski e Heiko Emil Seibold tinham planos de usar uma área do Exército brasileiro para treinar os militares e ex-militares recrutados por eles no país para vigiar instalações militares no Iraque. Durante encontro com os candidatos ao trabalho, os alemães disseram que pretendiam, antes do embarque para Bagdá, promover um treinamento de tiro no campo de instrução do Exército localizado na cidade goiana de Formosa, a 75 quilômetros de Brasília. Para usar a área, eles disseram estar negociando facilidades com um militar da reserva.

Agenciadores queriam usar armas do Exército

O Exército nega qualquer possibilidade de a área ser cedida para treinamentos particulares. Em entrevista ao GLOBO, o próprio Salewski confirmou que a área militar poderia sediar o treinamento. Ele se negou, porém, a dizer com quem estava negociando.

- Nada foi fechado. Só fizemos um levantamento - disse o alemão.

Um militar que concordou em conversar com o GLOBO contou que Salewski e Seibold chegaram a anunciar que o treinamento seria feito no campo de instrução de Formosa. Os dois disseram que os recrutados seriam treinados com armas do próprio Exército.

O treinamento seria uma das próximas etapas do processo de seleção de mercenários brasileiros para trabalhar no Iraque. Na primeira etapa, como o GLOBO revelou domingo, pelo menos 500 militares e ex-militares se candidataram, preenchendo formulários em que tinham de assumir todos os riscos por possíveis incidentes na missão. Os dois alemães dizem representar, no Brasil, a empresa americana Inveco International, que estaria prestes a fechar um contrato com as forças americanas para vigiar instalações militares em território iraquiano.

Treinamento custaria US$270 por candidato

O treinamento em Goiás, como disseram os alemães aos interessados, teria duração de apenas cinco dias. A dupla consultou uma empresa de segurança de Goiânia que poderia treinar os selecionados no campo militar de Formosa. Pagaria US$270 por cada militar treinado.

- O Heiko (Seibold) nos procurou e disse que pagaria esse preço. Eu perguntei com que armas seria feito o treinamento e ele respondeu que seriam fuzis do próprio Exército - revelou o responsável pela empresa goiana, que pediu anonimato.

O Campo de Instrução de Formosa (CIF) serve para treinamentos de tiro e outros exercícios militares do próprio Exército, mas comumente é cedido a tropas de outras corporações oficiais, inclusive polícias militares de diferentes estados. Ano passado, em nota oficial, o comando do Exército reclamou da limitação dos recursos destinados à unidade responsável pelo terreno, que faz parte da estrutura do Comando Militar do Planalto (CMP), sediado em Brasília. "Gostaríamos de realizar mais exercícios no terreno com tropas e material. No entanto, estamos limitados pelas crescentes restrições orçamentárias", dizia a nota. O Centro de Comunicação Social do Exército rechaçou ontem a possibilidade de o campo ser cedido para treinos particulares.